No cenário contemporâneo de combate às mudanças climáticas, a fonte eólica se destaca como uma solução promissora na busca por alternativas mais sustentáveis de energia. Considerada limpa e renovável, ela é vista como fundamental na transição para uma matriz energética mais verde. No entanto, a crescente expansão dos parques eólicos, especialmente no Nordeste brasileiro, tem trazido à tona debates intensos sobre seus impactos ambientais e sociais.
O Brasil, e mais especificamente o Nordeste, experimentou um aumento significativo na instalação de parques eólicos. A região, que possui condições climáticas ideais para essa forma de geração de energia, lidera a produção eólica com cerca de 90% da capacidade instalada do País. São aproximadamente 19 GW de capacidade instalada. Para termos uma ideia de comparação, a capacidade inteira instalada em Portugal, contabilizando todas as fontes, está em torno de 23 GW. A energia eólica é vista como uma alternativa para a redução da dependência de combustíveis fósseis, contribuindo significativamente para a diminuição da emissão de gases responsáveis pelo aquecimento global.
Contudo, a instalação desses parques eólicos não está isenta de controvérsias. Os impactos sobre a biodiversidade e as comunidades locais têm sido pontos de preocupação crescente. A necessidade de grandes áreas para a instalação das turbinas eólicas acarreta transformações significativas na paisagem e no ecossistema local, podendo causar desmatamento, fragmentação de habitats e até mesmo a extinção de espécies. Há também o risco de problemas sociais e de saúde para as comunidades próximas aos parques.
Ambientalistas em países como Noruega e México têm protestado contra a construção dessas usinas nos últimos anos, evidenciando que o impacto socioambiental é uma preocupação global. No Brasil, especialmente no bioma da Caatinga, os parques eólicos têm sido criticados por causar desmatamento, afetar a fauna local e produzir barulho com o movimento das pás das hélices que transformam o sossego de antes no tormento de agora. Há casos em que os parques eólicos afetam inclusive a produção agrícola de subsistência. O que no início era a esperança de renda para a gente pobre do sertão nordestino, agora é um problema de saúde mental.
Por outro lado, não se pode negar as vantagens da energia eólica. Além de ser uma fonte de energia renovável e não poluente, ela também apresenta baixos custos de instalação e operação. Além de reduzir a dependência de combustíveis fósseis, diminui a emissão de gases de efeito estufa. A geração de renda e emprego nas áreas de instalação dos parques é um benefício econômico inegável. Dados indicam que cerca de 11 postos de trabalho são criados por cada megawatt instalado.
Assim, enquanto a energia eólica representa um avanço significativo na busca por uma matriz energética mais sustentável, é fundamental abordar seus impactos de maneira equilibrada. Soluções propostas incluem a destinação de recursos de compensação ambiental para a criação de áreas protegidas, a instalação de turbinas em áreas sem vegetação nativa e a exploração de usinas eólicas offshore, instaladas em alto mar, que reduzem a pressão sobre terras.
O caso do Nordeste brasileiro ilustra a complexidade da transição energética. Enquanto se avança na geração de energia limpa e renovável, os desafios socioambientais apresentam um cenário que requer atenção e soluções inovadoras. A energia eólica, com seu potencial transformador, deve ser implementada de forma que maximize seus benefícios ambientais e econômicos, ao mesmo tempo em que minimiza seus impactos negativos.
Portanto, é imprescindível a necessidade de um diálogo contínuo e ações estratégicas entre governos, empresas, comunidades locais e ambientalistas para assegurar que a energia eólica possa cumprir seu papel essencial na transição para um futuro energético sustentável e justo para todos.
A Série Energia tem produção e apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA). A coprodução é de Ferraz Junior e edição da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.