A eleição para composição da lista tríplice de chapas de reitor e vice-reitor da USP, realizada no último dia 30 de outubro, teve uma novidade: pela primeira vez, a Universidade utilizou a tecnologia digital para a escolha de seus dirigentes. A votação também registrou participação de 93,1% dos votantes habilitados, considerado um índice inédito nos pleitos realizados na instituição.
A USP foi a primeira universidade brasileira a utilizar, para a eleição de seus dirigentes máximos, uma das tecnologias mais avançadas disponíveis no mercado, o sistema Helios Voting, desenvolvido pelo pesquisador do grupo de criptografia e segurança da informação do Instituto de Tecnologia Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), Ben Adida.
O sistema é disponibilizado publicamente como software livre, o que permite personalizações no código fonte, e oferece um programa de eleições verificáveis on-line. Suas principais características são privacidade (ninguém sabe em quem se votou, a não ser o próprio eleitor); rastreabilidade (cada eleitor tem um número rastreável de seu voto); e comprovação (sistema de código aberto, avaliado por especialistas qualificados, e utilizado por grandes organizações).
Na Universidade, o sistema foi adaptado pela Superintendência de Tecnologia da Informação (STI), a partir de uma versão disponibilizada pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) e da parametrização feita pelo Centro de Tecnologia de Informação de São Carlos, sob a coordenação do analista de sistemas Rogério Kondo.
“O sistema foi otimizado e configurado para o ambiente computacional em larga escala da USP, ganhando performance de processamento, confiabilidade e segurança de acesso”, explica o diretor do Centro de São Carlos, Adilson Gonzaga.
O trabalho, entretanto, não parou por aí e a atualização do código do sistema continua sendo feita periodicamente pelos profissionais da área de TI da USP. Recentemente, nove contribuições de melhorias foram incorporadas à versão atual (detalhes podem ser encontrados neste link).
“Depois de realizarmos 1.265 eleições eletrônicas, com mais de 80 mil votos, abrangendo desde representações em colegiados até a escolha de diretores e reitor, há confiança nos meios digitais como um bom caminho para a ampliação da participação da comunidade”, destaca o superintendente da STI da Universidade, João Eduardo Ferreira.
“Do ponto de vista da organização, a votação eletrônica representou uma simplificação dos procedimentos, otimizando o dia a dia da Secretaria Geral e possibilitando uma maior participação dos eleitores”, afirma o secretário geral da USP, Ignácio Maria Poveda Velasco. Segundo ele, a realização da eleição on-line permitiu a diminuição significativa no número de mesas eleitorais a serem instaladas e evitou o deslocamento dos eleitores, acarretando, assim, economia no processo.
Segurança
No que se refere à segurança da votação eletrônica, o superintendente da STI explica que “o sistema protege o segredo do voto. A criptografia, nos mesmos moldes da tecnologia de serviços bancários, traduz a escolha do eleitor numa forma codificada antes de enviá-la ao servidor de dados, impedindo que o voto seja revelado de forma individualizada, alterado ou excluído”.
A cada eleição, o sistema envia uma mensagem automática para a conta de e-mail cadastrada no banco de dados corporativo da USP, contendo o endereço eletrônico, login e senha para votação. A senha enviada para cada eleitor não é de conhecimento de nenhum administrador do sistema, pois é gerada eletronicamente pelo Helios.
Na USP, utiliza-se a mesma metodologia de segurança e otimização dos sistemas corporativos, com dois servidores computacionais atendendo às requisições dos usuários, por meio de balanceamento de carga expansível para a quantidade de servidores necessários de acordo com a demanda computacional.
Além disso, existem mais servidores computacionais especializados no armazenamento de dados criptografados. Isso garante a eficiência de acesso e segurança criptográfica, pela qual cada participante obtém um comprovante da cédula de votação que pode ser verificado de modo a garantir que o voto foi recebido e registrado apropriadamente.
Entretanto, mesmo com todos esses itens de segurança, uma questão que vem à tona é em relação à confiança em um sistema de votação controlado pela Reitoria, que detém as listas dos votantes e seus endereços e envia para cada um a senha para cadastramento do voto.
Quem explica é a superintendente jurídica da USP, Maria Paula Dallari Bucci: “A dúvida procede e merece esclarecimento. Veja-se que até mesmo o sistema do Tribunal Superior Eleitoral, reconhecido como um fator de celeridade na coleta e contagem de votos no Brasil, é objeto de questionamento, estando em vias de ser adotada a impressão das cédulas, em nome de suposta segurança e da proteção do eleitor – o que é muito discutível, dado que o histórico de fraudes, com o voto em papel, é muito maior do que aquele da urna eletrônica”.
Expansão
De acordo com a STI e a Secretaria Geral, responsáveis pela organização da eleição eletrônica, a metodologia inaugurada com a reforma do Regimento Geral, em 2015, poderá ser expandida.
Para isso, segundo o superintendente da STI, será importante fortalecer e ampliar o uso dos sistemas corporativos da Universidade, como o Nereu, que serve de apoio aos órgãos colegiados (pautas, atas, documentos e gestão de mandatos), e do e-mail institucional com domínio @usp ou @unidade.usp pelos participantes das eleições.