Os rankings acadêmicos são ferramentas que podem auxiliar as universidades a se conhecerem por meio de comparações com outras instituições. Entretanto, é importante conhecer os objetivos e as características de cada ranking e seus responsáveis, a fim de melhor identificar as oportunidades e os limites desses instrumentos em processos de avaliação e tomada de decisão.
A participação das instituições avaliadas pode ser voluntária, inclusive com fornecimento de dados, ou involuntária. A cada nova edição, a classificação das instituições pode variar, seja pelo seu aprimoramento, seja devido ao ingresso de novas instituições. As agências responsáveis pelos rankings utilizam bancos de dados, próprios e de terceiros, e ajustam sua metodologia para produzirem, em geral, classificações globais, com recortes temáticos (pesquisa, inovação), geográficos (regionais e nacionais) ou, ainda, por áreas de conhecimento. Isso resulta em uma certa variação na posição das instituições avaliadas a cada edição ou entre rankings publicados por diferentes agências em um mesmo ano.
A USP participa de forma voluntária em alguns rankings, fornecendo dados institucionais, a exemplo daqueles organizados pelas empresas Times Higher Education (THE) e Quacquarelli Symonds (QS). Em outros, como é o caso do Ranking Universitário da Folha (RUF) ou do CWTS Leiden, a participação é involuntária. Em alguns desses rankings, especialmente entre os mais populares, parte significativa da pontuação é obtida a partir de indicadores que medem a reputação das universidades, geralmente aferida por meio de pesquisas realizadas pelas próprias agências organizadoras junto a acadêmicos e empregadores em todo o mundo.
Então, o que esses rankings medem? De forma geral, pretendem aferir a excelência das instituições. Mas tal ideia de excelência é construída a partir de um conjunto de indicadores definidos por seus organizadores, o que torna esse conceito bastante variável. Em alguns casos, a excelência está majoritariamente relacionada à reputação, conforme mencionado, tendo como finalidade principal classificar as instituições com vistas à atração e ao recrutamento de alunos. Outros rankings priorizam o impacto da contribuição científica das universidades, considerando indicadores bibliométricos (CWTS Leiden) ou grandes premiações científicas internacionais (ARWU). Há ainda aqueles que se propõem a medir o quão comprometidas estão as instituições em relação a temas específicos, como a inovação (RUE) e o desenvolvimento sustentável (THE Impact).
E para que servem essas classificações? A utilidade dos ranqueamentos na avaliação e no processo de tomada de decisão depende dos objetivos e prioridades estabelecidos pela universidade, em sintonia fina com sua missão institucional. No caso da USP, somos uma universidade pública, localizada em um país em desenvolvimento, financiada pela sociedade, com o objetivo de contribuir com o desenvolvimento desta mesma sociedade. Nesse sentido, nem todas as métricas e indicadores aferidos pelos rankings serão adequados para avaliar e orientar as ações adotadas pela USP.
Assim, ao analisar o resultado de cada um deles, algumas perguntas devem nortear nossa reflexão: Quais pontos fortes aferidos devemos priorizar considerando nossa missão? De que forma os resultados podem orientar o direcionamento de políticas para cumprir a missão estabelecida? Quais políticas podem contribuir para melhorar os pontos fracos identificados sem prejuízo da missão da Universidade?
A USP possui o Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico (Egida) que, dentre outras funções, coleta, organiza e fornece dados para a participação voluntária das universidades em diferentes rankings. Uma visão mais geral dos rankings e seus indicadores pode ser consultada no site do Egida.
Como a USP tem atuado nessa esfera? Desde a criação do escritório, a USP vem constantemente aprimorando a coleta de dados, com apoio da Superintendência de Tecnologia da Informação (STI), da Administração Central e das unidades. Em diversas áreas foram identificados dados inconsistentes, incompletos, indisponíveis e até mesmo inexistentes. A sinergia entre os setores citados tem melhorado tanto o registro quanto a qualidade dos dados fornecidos aos rankings cuja participação é voluntária.
Além disso, ações conjuntas para fortalecer a reputação institucional já foram conduzidas junto às unidades e deverão ser intensificadas em futuro próximo. Ainda, ações de mensuração dos elementos de internacionalização, que não apenas contribuem para a nossa reputação como também respondem por uma parcela significativa dos indicadores de alguns rankings, estão sendo planejadas pelo Egida em parceria com a Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani) e outros órgãos da Universidade.
Por fim, o que podemos esperar? A melhoria na qualidade de dados e as demais ações planejadas não são garantia de melhor posicionamento nos rankings e não devem ser entendidas como medidas voltadas para atender aos ranqueamentos. Ao contrário, elas atestam a capacidade da Universidade em utilizar essas ferramentas para sua autoavaliação, assim como na definição de políticas que, em sintonia com sua missão, possibilitam o aprimoramento de suas atividades.
Em outras palavras, o autoconhecimento proporcionado pela análise dos dados é o grande benefício almejado – e não a ascensão em rankings propriamente dita. A ascensão é consequência e não objetivo. As políticas sugeridas e implementadas a partir deste autoconhecimento devem ser constantemente avaliadas, de forma a garantir que estejam alinhadas à missão da Universidade. O diagnóstico detalhado e preciso da situação atual é pré-requisito para planejar o futuro. E, para tanto, além de dados, é necessário também avançarmos neste cenário, com o desenvolvimento de pesquisas institucionais robustas, que contribuam com o processo de tomada de decisões.