Fotomontagem: Jornal da USP - Fotos: Cecília Bastos/USP Imagens, Pixabay

“Vamos juntas?”: iniciativa estudantil prevê ação pela segurança de mulheres na USP

Desenvolvido pelo Coletivo Feminista Anna Néri, da Escola de Enfermagem (EE) da USP, projeto orienta que alunas cruzem caminhos para que não andem sozinhas até a Universidade

 03/04/2023 - Publicado há 1 ano

Texto: Danilo Queiroz

Arte: Gabriela Varão

Você se sente insegura voltando para casa? Gostaria de uma companhia para evitar utilizar transporte público sozinha? Essas são algumas perguntas que em algum momento já passaram pela mente de algumas mulheres. 

Com o intuito de que alunas da USP não se sintam sozinhas em seus deslocamentos diários, o Coletivo Feminista Anna Néri, da Escola de Enfermagem (EE), desenvolveu o projeto Vamos Juntas? 

A iniciativa preza pela segurança feminina nos campi localizados na cidade de São Paulo: Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH); Quadrilátero da Saúde; Faculdade de Direito e Cidade Universitária, no bairro do Butantã.

Para participar do projeto basta se inscrever por meio deste formulário, disponibilizado pelo Coletivo Feminista Anna Néri (Cofan). Alguns dados serão solicitados para que possam conhecer a participante. São eles: nome completo; telefone para contato; e-mail; curso; qual transporte – público ou não – utiliza; o caminho percorrido até chegar à faculdade. As organizadoras esperam que as participantes confiem na rede para divulgar informações pessoais. “Nosso único objetivo é cruzar as informações e encontrar pessoas de localidades semelhantes para enviá-las para casa juntas”, ressaltam.

Reprodução/Instagram - @coletivoannaneri

A ideia surgiu no final do ano passado como um projeto estruturado, mas a iniciativa de fazer um programa de acompanhamento entre alunas vinha sendo estruturada em conversas informais ao longo da formação do coletivo. “Nós sabíamos que as redondezas da faculdade não eram muito seguras, especialmente durante a noite, e, por isso, andávamos em grupos sempre que possível”, explicam as participantes da rede composta atualmente com 57 estudantes.

Entre as reuniões do coletivo eram comuns relatos que exprimiam o temor de andarem sozinhas e denúncias de assédio. O projeto foi lançado recentemente a fim de unir pessoas e propor integração e segurança entre calouras da Universidade.

Antes de ser implantado, as alunas promoveram, anualmente, aulas de defesa pessoal para universitárias. Outras ações permanecem sendo desenvolvidas para reafirmar o protagonismo e apoio feminino. São elas: instalação de repositório de absorventes nos banheiros femininos da EE; campanhas de conscientização sobre a atuação do profissional de enfermagem, sobretudo, para com a saúde das mulheres; redes sociais como divulgação de conteúdos feministas. 

Caminhando juntas

É por meio dessas alianças que o medo em estar só é revertido pela coragem de ter uma mulher fazendo companhia. “A possibilidade de uma aliança entre mulheres é como um respiro de alívio, temos uma empatia mútua”, disse uma das participantes inscritas no projeto, que não será identificada nesta reportagem, para evitar possíveis retaliações. “Não sei quando a gente aprende isso ou se na verdade somos obrigadas a ser assim, mas alianças femininas existem em tudo. É como se a empatia por outra mulher já fosse intrínseca”, acrescenta.

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Ao Jornal da USP, a estudante do segundo ano de Enfermagem relatou que a mudança para a zona oeste de São Paulo trouxe consigo as inseguranças do que significa habitar na cidade considerada única metrópole global do Brasil. “Infelizmente faz parte do ser mulher ter medo o tempo todo. O receio está sempre presente, principalmente quando saio à noite do campus “, conta. Ela soube do projeto em uma das reuniões do coletivo. “Minha intenção foi estar disponível para acompanhar outras mulheres com as mesmas inseguranças que as minhas, principalmente alunas que ainda estão se adaptando ao ambiente do campus.”

Ela também afirma que “uma das maiores armas que uma mulher pode ter é uma rede de apoio efetiva. Alguém que te acompanhe no caminho para casa todo dia, que perceba um comportamento estranho seu, que perceba seu sumiço ou alguém com quem você possa contar para avisar sobre um perigo. Quando você tem com quem contar para pedir ajuda, as chances de você ficar desamparada em uma situação de perigo diminuem muito.”

A sensação de segurança é relatada em diferentes graus a depender dos horários aos entornos da Escola de Enfermagem - Foto: Ana Beatriz

Uma outra estudante relata que esses medos são sentidos de maneiras diferentes a depender do ambiente inserido. “Dentro do transporte eu sinto que tenho mais segurança, mas no percurso até o metrô ou o ponto de ônibus sempre sinto que estou hipervigilante, especialmente em áreas mal iluminadas, sendo a rua da faculdade um exemplo”, explica. 

Participante do coletivo, ela também enxerga a Guarda Universitária como aliada, embora esteja intrínseco um certo receio em expressar essas inseguranças aos profissionais da segurança, composta majoritariamente de homens. “Em um dos posts do Instagram do coletivo mencionamos que é possível acionar esse serviço caso você sofra um assédio na USP”, sugere. “Contudo, sabemos que a guarda não estará em todas as situações possíveis, e por isso acreditamos que podemos nos organizar como alunas para nos proteger melhor”, reforça a graduanda.

Ao Jornal da USP, a Guarda Universitária informou que os campi são vigiados 24 horas, diariamente. O serviço é responsável por receber denúncias de segurança pública, com situações envolvendo qualquer tipo de violência ou violação. De acordo com a guarda, foi comprovada uma baixa adesão de profissionais de segurança mulheres nos serviços de vigilância nas áreas comuns. Em nota, a Guarda Universitária destacou maior presença feminina na vigilância dos prédios de administração. Ainda de acordo com o órgão, cabe às prefeituras universitárias atender aos serviços de manutenção e conservação da infraestrutura dos espaços públicos da Universidade. 

Saiba mais: @coletivoannaneri


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