Projeto da USP cria espaço de acolhimento estudantil para evitar evasão da faculdade

Por meio de encontros semanais conduzidos por psicólogos e estudantes, projeto Grapusp oferece espaço de acolhimento e troca de experiências

 Publicado: 11/04/2024

Texto: José Adryan Galindo*
Arte: Diego Facundini**

Projeto conduzido por psicólogos e estudantes oferece suporte para a comunidade interessada expor suas dificuldades e compartilhar experiências - Foto: Freepik

Muitos desafios confrontam as pessoas que sonham em cursar uma universidade pública, e passar no vestibular parece ser o maior dos desafios. Mas, ao conseguir e se matricular, alguns estudantes acabam não permanecendo na universidade até o fim do curso. Os motivos para isso podem ser diferentes, como problemas financeiros ou psicológicos.

Usando a turma de 2018 como exemplo, primeira com cotas sociais e raciais, até 2022 as universidades públicas registraram 39% de evasão e as particulares, 59%. Na USP a evasão geral ficou em 17%. Os números variam de acordo com o curso.

A falta de vínculos saudáveis também é um dos fatores que influenciam alguns alunos a desistirem da universidade. É neste difícil contexto que nasce o Grupo Reflexivo de Apoio à Permanência na USP (Grapusp), um projeto conduzido por psicólogos e estudantes, que oferece suporte para ajudar a comunidade interessada a expor suas dificuldades e compartilhar experiências. O grupo propõe formar vínculos afetivos entre pessoas do ambiente acadêmico, fortalecendo o sentimento de comunidade e pertencimento de estudantes, por meio de encontros semanais.

O Grapusp começou em maio de 2019 e, desde então, é um espaço aberto e gratuito para estudantes da graduação e pós-graduação da USP. Exceto para alunos do Instituto de Psicologia (IP), pois os organizadores acreditam que a proximidade de convívio entre os alunos condutores do projeto e os participantes da mesma unidade pode influenciar negativamente a experiência coletiva.

O projeto é uma atividade de extensão do Laboratório Interinstitucional de Estudos da Intersubjetividade e Psicanálise Contemporânea (Lipsic),que conta com docentes da Psicologia da USP, PUC-SP e Unesp-Bauru. Entre eles, o doutor em psicologia clínica Pablo Castanho, professor do Instituto de Psicologia (IP) da USP, que é o responsável pelo Grapusp.

Para participar, é necessário se inscrever gratuitamente pelo formulário on-line.

“A aprendizagem significativa acontece quando o conhecimento apresentado na universidade é colocado em relação com as visões prévias, as emoções e os sentidos que o conhecimento apresenta nas relações sociais. Quando tudo vai suficientemente bem, vamos fazendo estas relações sem nos darmos conta. E fazemos isso não só em um diálogo interno, mas em diálogo com grupos formais e informais aos quais pertencemos. Mas para isso poder acontecer, precisamos nos sentir seguros nas nossas relações com e na universidade. E é nisso que o Grapusp pode ajudar”, aponta o professor Pablo Castanho, coordenador do projeto, em entrevista ao Jornal da USP.

Pablo Castanho - Foto: Linkedin

Iniciativa da PRIP

A Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) afirmou apreciar e estimular sempre que possível iniciativas como a do Grapusp. Além disso, a PRIP informou que através da Direção de Saúde Mental e Bem-Estar Social, o Programa ECOS tem oferecido uma roda de conversa com calouros chamada Acalourando. A proposta é servir de espaço de escuta coletiva e apoio mútuo. 

Medidas de incentivo

O tema da permanência estudantil se tornou mais relevante a partir da discussão e adoção da política de cotas pelas universidades brasileiras, facilitando o ingresso de grupos marginalizados no ensino superior. A USP aderiu às cotas em 2017 e teve 54,1% dos estudantes aprovados no vestibular de 2023 oriundos de escolas públicas. Entre estes, 27,2% autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. A entrada desses grupos no ambiente acadêmico exigiu a busca por medidas de incentivo à permanência na Universidade, como auxílio-moradia, alimentação, livros, entre outros (veja mais benefícios aqui).

Desde que o formulário de inscrição do Grapusp começou a questionar sobre ações afirmativas, 45 de um total de 65 inscrições vieram de estudantes que ingressaram na Universidade por meio de cotas, quase 70%. O que reforça a ideia de que a política de apoio à permanência é complementar à política de cotas.

O grupo trabalha com a ideia de que o sentimento de deslocamento e o pouco contato com outros estudantes vindos da mesma realidade podem influenciar na continuidade do curso. Por isso, o Grapusp tem tido sucesso em conectar alunos não apenas com profissionais da Psicologia, mas também com outros estudantes na mesma situação, cultivando relacionamentos saudáveis que se estendem para além das reuniões semanais.

“Muitos dos estudantes que passaram [por aqui] relataram uma melhora em suas relações de orientação, abertura para atividades de extensão e extracurriculares no campus, fizeram amigos fora e dentro do grupo, como também puderam elaborar mudanças e decisões difíceis na vida universitária”, afirma Felipe Suzuki, estudante de Psicologia no IP e organizador do projeto.

Os encontros são às segundas-feiras, das 17h30 às 18h45 (on-line), e presenciais às sextas-feiras, das 13h15 às 14h45, no Instituto de Psicologia da USP. Para participar, é necessário fazer inscrição no formulário: https://docs.google.com/forms

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas durante todo o ano letivo, já que os grupos funcionam com periodicidade semestral. Os alunos que se inscreverem serão informados por e-mail quando poderão fazer parte dos encontros. A tendência é que os inscritos sejam inseridos em no máximo três semanas.

Mais informações: grapusp@usp.br

*Estagiário sob supervisão de Tabita Said e Antonio Carlos Quinto
**Estagiário sob supervisão de Simone Gomes

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