Coletivo antirracista da USP promove o Quilombo Tech e discute racismo digital

Uma das propostas do evento é discutir os riscos que a inteligência artificial promove ao perpetuar a violência racial por meio do racismo algorítmico; promovido pelo coletivo Aqualtune Lab, encontro ocorre nesta sexta-feira, 4

 03/11/2022 - Publicado há 1 ano
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Fotomontagem com imagens de Freepik, Unsplash e Wikimedia Commons por Rebeca Fonseca

 

Aqualtune foi uma princesa africana escravizada no Brasil e líder quilombola à frente de um dos 11 mocambos do Quilombo dos Palmares, que resistiu ao regime colonial por cerca de 130 anos. Ela foi, segundo a tradição, a mãe de Ganga Zumba e avó materna de Zumbi dos Palmares. Com seus conhecimentos políticos, organizacionais e de estratégia de guerra, Aqualtune foi essencial para a consolidação da República de Palmares e do fortalecimento das populações pretas no Brasil.

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Esse nome inspirou a criação do Aqualtune Lab, coletivo jurídico multidisciplinar, que trata da análise das inter-relações entre direito, tecnologia e raça, que promove o evento Quilombo Tech no dia 4 de novembro, próxima sexta-feira, das 16 às 18 horas, no Instituto de Geociências (IGc) da USP. Para participar do Quilombo Tech, basta acessar o formulário de inscrição disponibilizado pelos organizadores.

O evento é apoiado pela Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) da USP, sendo uma das primeiras programações do calendário do mês da Consciência Negra, neste mês.

O coletivo é coordenado por Celso Oliveira, professor associado do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP. No evento, o coletivo terá como uma das propostas debater tecnologia e racismo. O Aqualtune Lab é representado pelos professores Ernane José Xavier, Ana Carolina Lima, ambos da FZEA, e Valdinei Freire, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

Celso Oliveira – Foto: Arquivo pessoal

“A tecnologia e a inteligência artificial vem exacerbando o racismo que está presente de diferentes formas na sociedade. Não basta os algoritmos não serem racistas. Precisam ser antirracistas. Qualquer coisa que seja antirracista afeta a vida de mais de 50% da população autodeclarada preta no Brasil”, afirma Oliveira. De acordo com o professor, o racismo se manifesta de diversas formas e começa a ser manifestado também no espaço virtual. Para Oliveira, a tecnologia, nesse caso, é espelho da nossa sociedade. É possível identificá-lo por meio dos discursos de ódio na internet, no embranquecimento dos filtros de fotos nas redes sociais e até mesmo na seleção automatizada de vagas de emprego.

 

Ana Carolina Lima – Foto: Aqualtune Lab

Ana Carolina Lima, advogada e uma das diretoras executivas do Aqualtune Lab, afirma que “a tecnologia não é neutra. O algoritmo, quando é criado, vai seguindo um padrão social nas redes sociais. Esse padrão está ligado a posições de poder relacionadas, sobretudo, com homens brancos. Já no caso da população negra, é sempre retratada no algoritmo por meio da servidão, da subalternidade.”

Para ela, é preciso lembrar que a hiperconectividade das pessoas em todas as escalas já é uma realidade. O uso de tecnologias no sistema jurídico encontra espaço, seja por meio das vigilâncias pública e privada, das políticas de proteção de dados, da identificação biométrica e do aumento da insegurança nos espaços virtuais. No entanto, concomitantemente com todos esses avanços tecnológicos, percebe-se uma grande desigualdade social.

“O nosso objetivo é, para além de trazer mais informações sobre direito, antirracismo e tecnologia por meio do nosso duplo olhar social, enquanto pessoas negras, contribuir com elementos para reflexão e alteração da realidade do racismo e as suas variadas formas de discriminações que permeiam a vida de milhões de brasileiras e brasileiros”, diz Ana Carolina, que coordena o evento Quilombo Tech.

Para exemplificar o racismo algorítmico, a advogada menciona que, até pouco tempo atrás, uma pesquisa no Google com os termos “cabelo feio” resultava em imagens de pessoas pretas com tranças, cabelos crespos ou cacheados. Já pesquisando “cabelo bonito”, o resultado seria outro: pessoas brancas, de cabelos lisos, loiros ou ruivos.

Por isso, o objetivo do evento é estimular uma tecnologia que seja fortalecida por movimentos antirracistas, promovendo conexão entre os participantes a partir das dificuldades e estigmatizações que a população negra sofre nos espaços virtuais. Para os organizadores, a pertinência destes assuntos nas universidades é de suma importância, não só por envolver trabalhos científicos, mas também por envolver questões como saúde, educação e outros setores da sociedade.

O coletivo Aqualtune Lab atua em diversas frentes, como o trabalho da expansão de uma comunicação antirracista, estímulo de projetos científicos desenvolvidos por pessoas negras, promoção de direitos humanos e também por meio de capacitações e de formações continuadas em direito e tecnologia antirracista.

 

Diversidade em Ciência #68: Celso Oliveira fala sobre o uso da tecnologia e de algoritmos para intensificação do racismo

Diversidade em Ciência - USP
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Para mais informações: https://aqualtunelab.com.br/#2


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