Em 2017, o Grupo Globo disponibilizou sua série Carcereiros, baseada no livro de Dráuzio Varella, em sua plataforma on demand na internet, antes de a atração estrear em rede nacional – o que só ocorreu neste ano. A atitude da principal emissora do País mostra que esse novo modelo de assistir TV vem se consolidando cada vez mais. O assunto é o tema principal do 13º Seminário Internacional do Observatório Ibero-Americano de Ficção Televisiva (Obitel), que acontecerá nesta quinta e sexta-feira, dias 16 e 17 de agosto, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. O evento, que ocorre anualmente, reúne pesquisadores de 12 países para discutir as perspectivas e tendências da chamada ficção televisiva.
O Centro de Estudos de Telenovela (CETVN) da ECA é o responsável por representar o Brasil no seminário, que é organizado pelo Obitel, observatório criado em 2005 inicialmente para observar a ficção televisiva aberta em 12 países ibero-americanos, mas que hoje já se expandiu, incorporando também canais a cabo e produções para internet. “Depois de muitas pesquisas, passamos para essa expansão para além da TV”, conta Ligia Maria Prezia, pesquisadora do CETVN.
O serviço de vídeos on demand passou a ocupar espaço importante na mídia atual, devido principalmente à lógica de consumo flexível em que se insere. “Estamos em um processo de transição da ficção como produto de uma grade televisiva, em que você tem dia e horário para assistir, para esse novo modelo, em que você assiste quando, onde e como quiser”, diz Ligia. Assim, a intenção do evento é justamente mostrar pesquisas sobre o assunto em diversos países, gerando trocas de experiências e análises sobre esse processo. “É um movimento de expansão para essa plataforma, que ocorre simultaneamente em diversos países e em diferentes graus de desenvolvimento. É uma variedade de condições de produção e de recepção, mas todos vão caminhando para essa mudança de paradigma que observamos em todas as áreas.”
No Brasil, a Netflix é um dos nomes mais populares em relação a produções nacionais. Séries como 3% e O Mecanismo foram produzidas pelo serviço de streaming e geraram grande repercussão no País e internacionalmente. “Temos desenvolvido essas pesquisas iniciais no Brasil e estamos vendo um grande crescimento do vídeo on demand, principalmente em termos de produção”, continua Ligia. De acordo com ela, essa nova plataforma começa a afetar tanto o público quanto as próprias produtoras.”É um novo modo e isso influencia as principais produtoras de TV aberta também, que começam a se abrir. O público passou a buscar outros modos de assistir à ficção televisiva, como o celular e o computador.”
O seminário contará com uma mesa especial, a Obitel Expansões. O nome representa a junção de dois núcleos de pesquisa que teve início em 2016, quando um grupo internacional formado por diversos países, como Itália, Escócia, Estados Unidos e Reino Unido, entrou em contato com o observatório para uma parceria. O objetivo era convidar a entidade ibero-americana para participar de um trabalho de comparação de estudos sobre adaptações em diferentes plataformas da clássica história O Fantasma da Ópera, escrita originalmente por Gaston Leroux em 1910. “Como no Brasil não tivemos uma ficção dessa narrativa – existiu uma série na TV Manchete, mas é muito antiga, não contendo material para análise -, entramos então com o estudo de fãs, como o Fanfics (narrativas de fãs de ficção), por exemplo”, conta outra pesquisadora do CETVN, Clarice Greco.
A escolha dessa obra deve-se à sua grande relevância e diversidade. “Essa é a graça de O Fantasma da Ópera. É uma narrativa que abrange múltiplas disciplinas, como a música, o teatro, a literatura, o cinema e agora entramos com o estudo de fãs. Junta pesquisadores de várias áreas”, explica Clarice. Uma das principais metas do projeto é perceber como se dão as chamadas transferências culturais sobre a história, ou seja, como cada país a transforma de acordo com suas próprias características. Existem uma adaptação chinesa dos anos 20, um filme mexicano meio chanchada dos anos 50 e longas ou musicais adaptados para vários países. É uma obra que, além de ter múltiplas disciplinas, também tem vários públicos. Cada um estudando em seu país e região como se dão essas adaptações”, completa.
O evento tradicionalmente marca o lançamento do Anuário Obitel, um relatório sobre tudo o que aconteceu na área durante o ano anterior nos países do grupo. Em sua décima segunda edição, o livro é dividido em duas partes, abordando desde as ficções televisivas como um todo até o tema principal do seminário. “A primeira parte tem um comparativo entre os 12 países. Já a segunda conta com 12 capítulos, um sobre cada país, explicando o monitoramento que foi feito ali em 2017”, conta Clarice. O Anuário Obitel será disponibilizado no site do observatório.
O 13º Seminário Internacional do Observatório Ibero-Americano de Ficção Televisiva (Obitel) ocorre nesta quinta e sexta-feira, dias 16 e 17 de agosto, a partir das 9 horas, em ambos os dias, até as 17h45, no Auditório Paulo Emílio da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP (Avenida Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Prédio Central, na Cidade Universitária, em São Paulo). As inscrições devem ser feitas neste link. A programação completa do evento está disponível aqui.