O pioneirismo de diretoras no modo de fazer cinema é o tema da nova mostra do Cinema da USP, que fica em cartaz a partir desta segunda-feira, dia 16, até 31 de julho. Mulheres de Vanguarda apresenta obras de 12 cineastas que de algum modo buscaram a experimentação dentro da sétima arte. A entrada é gratuita e as exibições ocorrem de segunda s sexta feira, em sessões realizadas às 16 e às 19 horas.
A mostra aborda o cinema vanguardista norte-americano que surgiu em meados da década de 40, trazendo diversas inovações técnicas e estilísticas. Produzidos em diferentes épocas, são em sua maioria médias e curtas metragens, formatos predominantes no movimento. O objetivo é apresentá-lo para o público geral, mostrando a participação fundamental de cineastas mulheres, fator muitas vezes esquecido pela própria crítica especializada. “Queremos trazer para o Cinusp um pouco do trabalho dessas diretoras, bastante representativas do cinema experimental nos Estados Unidos. Muitas delas são desconhecidas do público, e até mesmo de quem pesquisa cinema do gênero”, conta Maria Carolina Gonçalves, uma das curadoras da mostra.
As sessões são organizadas de acordo com os nomes das cineastas. Cada dia conta com a apresentação de filmes de duas diretoras diferentes, uma às 16 e outra às 19 horas. Já na estreia de Mulheres de Vanguarda, nesta segunda-feira, dia 23, logo após a exibição das obras de Marie Menken ocorre um debate com a pesquisadora Patrícia Mourão, doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e especialista no cinema realizado pela vanguarda norte-americana. “A proposta dela é falar sobre o começo do movimento norte-americano e o modo como o cinema experimental, nos anos 60, precisava e desejava musas. Ou seja, vai comentar sobre essa representação feminina nos filmes daquela época”, conta Ivan Amaral, curador e idealizador da mostra.
O cinema experimental norte-americano perdeu força ao longo do tempo, mas ainda resiste em alguns cineastas, como a diretora Akosua Adoma Owusu. Os curtas-metragem de Akosua, ainda inéditos no Brasil, são destaques da mostra. “Ela até já foi exibida uma vez no Brasil, mas foi só um de seus trabalhos. Agora estamos trazendo quatro curtas dela, sendo dois com legendagem que nós mesmos fizemos”, revela Maria Carolina. Ela ainda conta que os filmes de Akosua não são as únicas obras raras que fazem parte da seleção final do Cinusp. “Filmes da Su Friedrich, por exemplo, também são bem raros de encontrar. Os de Sadie Benning também.”
Pode se dizer que essas inovações de cineastas dos Estados Unidos começaram – ou pelo menos exerceram grande influência – a partir da cineasta Maya Deren (1917-1961), única a ter duas sessões diferentes na mostra. “Ela é considerada a ‘mãe’ dessa vanguarda. Ela tinha um apelo muito formal, trabalhando principalmente com a montagem descontínua, como uma forma de relação com o público”, conta Amaral. Além de produzir grandes filmes e até atuar em alguns deles, Maya foi uma grande teórica. “Ela desenvolveu todo um pensamento sobre o cinema experimental, que influenciou muita gente e foi, na verdade, o começo do que a gente conhece como a vanguarda norte-americana”, complementa ele.
Pode-se dizer que a característica principal desse movimento é a tentativa de inovar no fazer cinematográfico em relação à forma. Segundo Amaral, “são filmes que não contam histórias e que experimentam com a forma, sobretudo”. No entanto, essas experimentações ocorriam de modo muito heterogêneo, o que fica claro pela seleção final do Cinusp. “Cada cineasta é vanguardista em um certo aspecto muito particular. A Sharon Lockhart, por exemplo, faz uma proposta de um filme todo com um único enquadramento, Goshogaoka, de 1997“, relata Maria Carolina.
Apesar de a inovação estilística feita por mulheres ser a conexão entre todas as obras em Mulheres de Vanguarda, os temas também têm um significado na mostra. “O conteúdo varia, mas esta mostra dá preferência para temas que abordam a própria condição feminina”, relata Amaral. De acordo com Maria Carolina, “eles trazem temas que não são muito trabalhados geralmente. Por exemplo, a Su Friedrich e a Barbara Hammer tratam bastante da militância feminista e LBGT, que não eram temas tão trabalhados na época.”
A mostra Mulheres de Vanguarda será apresentada de 16 a 31 de julho, de segunda a sexta-feira, às 16 e às 19 horas, no Cinema da USP (Rua do Anfiteatro, 181, Colmeias, Favo 4, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações estão disponíveis no site do Cinusp.