Morte de Renata Pallottini lança luto sobre as artes

Professora Emérita da Escola de Comunicações e Artes da USP, dramaturga morreu no dia 8 passado, aos 90 anos

 13/07/2021 - Publicado há 3 anos
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A dramaturga Renata Pallottini: obra “vasta, coerente, politicamente engajada e poeticamente sensível”, segundo a professora da USP Cristina Costa – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

 

No dia 8 de julho passado, uma quinta-feira, as artes perderam Renata Pallottini, aos 90 anos de idade. Professora do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e, desde 2012, Professora Emérita da mesma instituição, Renata foi dramaturga, ensaísta, tradutora, poetisa, roteirista e escritora.

Nascida na capital paulista em 1931, Renata teve uma formação ampla. Graduou-se em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, em 1951, e em Direito pela USP, em 1953. Em seguida, partiu para a França, onde estudou teatro em cursos livres da Sorbonne Nouvelle, em Paris. Já na década de 1960, cursou Dramaturgia e Crítica na Escola de Arte Dramática (EAD), formando-se em 1962. Sob orientação de Sábato Magaldi, concluiu seu doutorado na ECA em 1982.

Após obras no meio amador, Renata fez sua estreia no teatro profissional em 1965, com O Crime da Cabra, dirigido por Carlos Murtinho, vencedor dos prêmios Molière e Governador do Estado de melhor texto. Em 1968 realiza a tradução de Hair, de James Rado e Gerome Ragni, pela qual recebe o prêmio de Melhor Tradução da União Cultura Brasil-Estados Unidos. Dentre os diretores que encenaram seus textos estão Silnei Siqueira, Ademar Guerra, José Rubens Siqueira, Márcia Abujamra e Gabriel Villela.

Sua trajetória reuniu teatro, livros, sala de aula e televisão. Nesta última, seu nome está em produções como Malu Mulher e Vila Sésamo. Como estudiosa do teatro, publicou os ensaios Introdução à Dramaturgia, Dramaturgia de Televisão e Dramaturgia: a Construção do Personagem. Além de atuar como professora do Departamento de Artes Cênicas da ECA, Renata também lecionou na EAD, onde foi diretora entre 1973 e 1975. Desde 1988, integrava o corpo docente da Escuela Internacional de Cine y Television de San Antonio de los Baños, em Cuba.

Como se as atividades ligada aos palcos, à televisão e à pesquisa já não fossem suficientes, Renata teve uma vasta obra em poesia e prosa, incluindo literatura infantil. Dentre seus livros de poemas encontram-se Acalanto (1952), Livro de Sonetos (1961), Coração Americano (1976), Chão de Palavras (1977) e Obra poética (1995). Na prosa, escreveu o volume de contos Mate é a Cor da Viuvez (1975) e os romances Nosotros (1991) e Ofícios & Amargura (1998). Já na literatura infantil, publicou, dentre outros, Tita, a Poeta (1984), Do Tamanho do Mundo (1993) e Sempre é Tempo (1998).

Desde 2013, Renata era integrante da Academia Paulista de Letras. Em 2016, a coleção Aplauso, da Imprensa Oficial, publicou sua biografia, Renata Pallottini: Cumprimenta e Pede Passagem. A União Brasileira dos Escritores (UBE) conferiu à professora, em 2017, o troféu Juca Pato.

Conheci Renata Pallottini quando cheguei à USP e comecei a lecionar a disciplina Teatro e Sociedade, no Departamento de Artes Cênicas da ECA”, conta a professora do Departamento de Comunicações e Artes da ECA Cristina Costa. “Ela era chefe do departamento, nessa época. Foi quando cedeu sua sala, a primeira à direita do corredor, para que lá fosse instalado o  Laboratório de Informação e Memória. Quando fomos ajudar a retirar seus pertences, entre eles havia uma rede e um chapéu de couro. Esses dois objetos, na sala de chefia do departamento, mostravam bem quem era essa chefe – uma mulher ousada, uma professora incomum, uma poetisa rebelde, uma dramaturga pujante, uma cidadã livre de preconceitos, de falsas vaidades, de vãos formalismos.”

Cristina continua as recordações. “Tive ainda oportunidade de conviver com ela no Núcleo de Pesquisa de Telenovela, onde estudamos as produções televisivas e ela nos trouxe a experiência acumulada em novelas e seriados, como o Vila Sésamo. Lembro-me de suas aulas sempre estimulantes, de sua participação em seminários; lembro-me também de nossa estada em sua casa em Atibaia, onde nos reunimos para discutir a telenovela brasileira.”

”Renata Pallottini teve uma participação decisiva na história do Departamento de Artes Cênicas da USP, tanto na consolidação das práticas e estudos de dramaturgia no âmbito dos cursos de graduação e pós-graduação, quanto institucional, como chefe de departamento e figura exponencial nos embates políticos e culturais da Escola de Comunicações e Artes e da Universidade”, comenta o professor Luiz Fernando Ramos, chefe do departamento. ”Como poeta e dramaturga de relevo na cena nacional, cumpriu sempre um papel modelar na formação de jovens artistas e na definição de rumos acadêmicos. Sua presença, firme nas ações e vibrante no empenho, era um exemplo vigoroso de caráter e coragem moral. Deixa muita saudade e uma memória de integridade e generosidade artísticas à cena atual e às futuras gerações do teatro brasileiro.”

Cristina resume o conjunto da trajetória de Renata: “Como autora, contista, dramaturga, poetisa, tradutora, professora, ensaísta, sua obra foi vasta, coerente, politicamente engajada e poeticamente sensível”.


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