As lições pontuais do mestre João Adolfo Hansen

Ensaios escritos pelo professor nas últimas três décadas estão em “Agudezas Seiscentistas e Outros Ensaios”, publicado pela Edusp

 09/08/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 22/08/2019 às 18:24
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O professor da USP e crítico literário João Adolfo Hansen – Foto: Cicero Wandemberg / STI-FFLCH / USP Imagens

São 14 capítulos que apresentam lições pontuais sobre diversos assuntos e pesquisas do mestre João Adolfo Hansen, historiador, crítico literário e professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Em Agudezas Seiscentistas e Outros Ensaios, coletânea de textos de João Adolfo Hansen que acaba de ser lançada pela Editora da USP (Edusp), as organizadoras Cilaine Alves Cunha e Mayra Laudanna buscaram destacar textos produzidos nas últimas três décadas para revistas acadêmicas, capítulos de livros e conferências apresentadas no Brasil e no exterior.

“A reunião desses textos tem como objetivo tornar disponível esse material disperso em periódicos e em antologias de trabalhos coletivos nacionais e internacionais, alguns já fora de circulação ou apresentados oralmente em eventos diversos”, observam, no texto de apresentação, as professoras Cilaine, que leciona Literatura Brasileira na FFLCH, e Mayra, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), também da USP. Segundo as professoras, o levantamento dos trabalhos de Hansen em revistas, livros, arquivos pessoais e diversas instituições acadêmicas e editoriais apresentou, por sua vez, versões diferentes de um mesmo texto. A seleção da versão publicada no livro resultou de reuniões entre o autor e as organizadoras.

“Os textos tratam de categorias e conceitos político-teológicos que contribuíram para unificar a ‘política católica’ e centralizar as monarquias absolutas.” As organizadoras ressaltam que os artigos também abordam as determinações e os condicionamentos materiais e institucionais das práticas luso-brasileiras, tais como o exclusivo metropolitano, a profissionalização do letrado alheia à divisão burguesa do trabalho intelectual, as instituições e as práticas educacionais, religiosas e catequéticas da Companhia de Jesus, entre outros temas. “Enquanto trata da maioria desses assuntos, Hansen recupera a apropriação e problematiza a reciclagem, por diferentes tratadistas, de autoridades tradicionais e de padrões retórico-poéticos, antigos, gregos, latinos, patrísticos e medievais, de acordo com os pressupostos teológicos da ‘política católica’.”

 

A forma e a leitura do conjunto de seus textos concretizam-se como uma espécie de caleidoscópio em que os assuntos, os conceitos, os preceitos e as técnicas das representações se justapõem.”

 

Leon Kossovitch, crítico de arte e professor do Departamento de Filosofia da FFLCH, assina a contracapa do livro. Assinala: “A restituição arqueológica de Hansen, não partindo da identidade e da diferença, analisa os discursos práticos e as representações da Colônia: articulado teológico-politicamente, o absolutismo católico português instituiu-se como um sistema simbólico cuja reconstrução se efetua com as homologias entre discursos e representações, dominante o referencial aristotélico, que abarca o tomismo escolástico, o neotomismo contrarreformista e as filosofias anteriores de Aristóteles e Teofrasto, notáveis, respectivamente, nas paixões e nos caracteres, como aplicações então já mais que centenárias na Itália, na Espanha e em Portugal, colônias incluídas, com a teologia como fecho da travação histórica das homologias”.

Para as organizadoras Cilaine Alves Cunha e Mayra Laudanna, a seleção de artigos produzidos em diferentes momentos e como trabalhos independentes permite ao leitor escolher a leitura de forma sequencial ou alternada. Ressaltam: “A forma e a leitura do conjunto de seus textos concretizam-se como uma espécie de caleidoscópio em que os assuntos, os preceitos e as técnicas das representações se justapõem, entrecruzam-se e encadeiam-se num modo de exposição que preserva a hierarquia avaliativa que receberam em seu tempo próprio.”

O livro lançado pela Editora da USP – Foto: Reprodução

O livro tem também a apresentação de Alcir Pécora, professor do Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele observa: “Os trabalhos aqui compilados de João Adolfo Hansen constituem, cada um deles, verdadeiras lições inaugurais sobre vários assuntos negligenciados pela tradição crítica brasileira. Por isso mesmo, evidenciam as virtudes intelectuais que o fizeram um dos pesquisadores brasileiros de literatura mais reconhecidos internacionalmente.”

 

Agudezas Seiscentistas e Outros Ensaios, de João Adolfo Hansen, organização de Cilaine Alves Cunha e Mayra Laudanna, Editora da USP (Edusp), 344 páginas, R$ 60,00.

 


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