Um voo como todos os outros. O visitante passageiro atravessa uma porta de hangar. Faz o check-in, recebe o cartão de embarque. E tem a sensação de estar a bordo. A viagem é para redescobrir a história de Alberto Santos-Dumont, um brasileiro nascido no dia 20 de julho de 1873, no sítio de Cabangu, na cidade de Palmira, Minas Gerais.
Entre fotos, documentos, cartas, protótipos de invenções curiosas, como uma espécie de catapulta para lançar boias salva-vidas para banhistas ou uma engenhoca de ferro para ser carregada nas costas dos esquiadores para subir montanhas, é possível observar a criatividade de um gênio. E a determinação de um sonhador que, há 110 anos, conseguiu a proeza de decolar um avião com motor a gasolina.
Com a curadoria de Luciana Garbin, a exposição Santos-Dumont – Coleção Brasiliana Itaú , em cartaz no Itaú Cultural, reúne 600 peças originais e pessoais do inventor. “Ao contrário do que muitos acreditam, o brasileiro não é apenas o pai da aviação”, explica. “É a história do esportista, designer, do criador de dezenas de projetos e do inventor que lançou moda com o seu corte de cabelo dividido ao meio e colarinho alto, além do chapéu panamá amassado, que estamos apresentando.”
Luciana é jornalista com graduação e pós na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Foi convidada a participar da montagem da exposição em um trabalho compartilhado com os núcleos Itaú Cultural de Inovação, Acervo e Enciclopédia de Artes Visuais, Produção e Centro de Memória, Documentação e Referência (CMDR). “Os documentos, objetos e imagens foram conservados pelo próprio Santos-Dumont e herdados por membros de sua família. Pertencem à Coleção Brasiliana da instituição.”
Trabalho de repórter
Contar a história de Alberto Santos-Dumont exigiu um trabalho de repórter. Luciana investigou as suas múltiplas faces no decorrer de seis meses. A pesquisa resultou na publicação de um caderno especial no jornal O Estado de S. Paulo. “Nessa matéria procurei mostrar documentos inéditos que pesquisei nos acervos de São Paulo, Rio e Minas e também nos lugares por onde Santos-Dumont morou e passou aqui no Brasil. Foi a partir dessa publicação que me convidaram para a curadoria. Um desafio, porque tinha que mostrar a sua trajetória histórica porém com recursos audiovisuais e uma tecnologia moderna.”
Embora a mostra seja o seu primeiro trabalho como curadora, Luciana seguiu a sua experiência na edição e organização de imagens, informações e textos. O resultado é a exposição sensorial e ao mesmo tempo didática, que traz o cotidiano de Santos-Dumont entre os livros de Júlio Verne, a determinação de projetar sonhos, a sua convivência com os nobres e artistas de Paris e a divulgação de seu trabalho em jornais e revistas de vários países do mundo. Um trabalho cuidadoso com todas as ferramentas específicas para garantir a acessibilidade a cadeirantes, pessoas com problemas auditivos e visuais. Há explicações em braile, linguagem de sinais, pisos táteis e balões e aeroplanos que podem ser manuseados para sentir os detalhes desenvolvidos pelo inventor.
As diversas fases de sua vida são determinadas pelas cores e decoração dos espaços. O clima parisiense é ressaltado pelas cores rosa, azul e verde. E a sua última fase, quando volta ao Brasil, está em um espaço cinza. Os jornais noticiam a sua morte no dia 23 de julho de 1932, no Guarujá. Embora tenha sido atribuída a um colapso cardíaco, Santos-Dumont suicidou-se.
A mostra se encerra com os passageiros atravessando a ponte de desembarque. Na saída, a surpresa: a réplica em tamanho real da aeronave Demoiselle, sua obra-prima construída entre 1907 e 1909.
A mostra Santos-Dumont – Coleção Brasiliana Itaú pode ser apreciada de terça a sexta-feira, das 9 às 20 horas; sábados, domingos e feriados, das 11 às 20 horas. Piso 2. Exposição indicada para todas as idades, com entrada gratuita. O Itaú Cultural fica na Avenida Paulista, 140 (perto da Estação Brigadeiro do Metrô), tels. (11) 2168-1776/1777. Até 25 de janeiro de 2017.