Exposição na USP exibe poesia coreana com arte

Em cartaz na biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, “Poesia Coreana” traz ilustrações e caligrafias inspiradas em poemas coreanos

 Publicado: 12/04/2024
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Exposição traz poemas coreanos na língua original, acompanhados de tradução feita pela professora Yun Jung Im, do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A mostra Poesia Coreana traz à Biblioteca Florestan Fernandes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP poemas amados pelo público coreano, traduzidos pela professora Yun Jung Im Park, do Departamento de Letras Orientais da FFLCH, acompanhados pelo original em escrita coreana (hangul). Também estão expostas obras da ilustradora Ing Lee e dos caligrafistas Sung Ju Na e Jong In Kim, incrementando os 12 poemas.

Além das poesias e das obras de arte, o Espaço Multiuso da biblioteca toca músicas tradicionais coreanas e uma televisão mostra outras poesias coreanas do canal da professora Yun na plataforma YouTube, com declamações tanto em português quanto em coreano e biografia dos autores.

Os poemas lidam com temas como a solidão, com uma linguagem melancólica e referências à passagem do tempo e à natureza. Mesmo os escritos mais bem-humorados, como Mapa do Mijão, de Yun Dong-ju, são carregados de desalento – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A mostra é realizada graças a uma colaboração entre a professora Yun Jung e a artista visual Ing Lee. O interesse de Ing pela poesia coreana surgiu a partir de livros e traduções de Yun, como Olho-de-Corvo, do poeta Yi-Sáng, e Contos Coreanos Contemporâneos. Ing propôs a série intitulada Mugunghwa – a flor nacional da Coreia do Sul – inspirada pelos poemas à Playground Brasil, um canal de entretenimento no YouTube. A artista traz à vida poemas com um ar contemporâneo e com os quais o público jovem da Playground pode se conectar. “Eu quis trazer uma releitura desses poemas em uma roupagem que mesclasse o tradicional e o contemporâneo”, pontua.

Uma das principais influências de Ing foi o estilo de natureza-morta coreana chaekgeori (pronuncia-se tchêgórí), cuja tradução significa “livros e coisas”. “O meu interesse era difundir a poesia coreana e também mergulhar e explorar novas linguagens artísticas”, relata. Outra referência foi o artista Nam June Paik, considerado o fundador da videoarte. Ela comenta que as traduções da professora Yun, repletas de contextualização e notas, tornaram os autores mais acessíveis. “É uma cena de poesia que não chega muito aqui, apesar da onda coreana.”

Os poemas são ilustrados por desenhos da artista visual Ing Lee – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A poesia coreana do século 20

Um dos destaques da mostra são os escritos de Yun Dong-ju (1917-1945), poeta que morreu aos 27 anos mas cuja influência continua até hoje. Muitos dos outros poemas foram escritos na época em que a Coreia esteve sob domínio japonês. Dong-ju morreu na prisão por fazer parte de um grupo libertário e, décadas após sua morte, recebeu uma condecoração como herói da libertação. Sua poesia é intimista, sensível e lírica. “Ele fala em muitos momentos da tristeza de morar em outro país, já que ele foi estudar no Japão, e por isso perder sua pátria e sua língua”, explica a professora Yun.

Os poemas da mostra foram escritos dos anos 30 aos 80 do século passado, período em que a Coreia passou por transformações sociais, políticas e econômicas. O país começou como uma colônia japonesa (1910-1945), viveu a Guerra da Coreia (1950-1953) e passou por uma rápida industrialização e crescimento econômico.

Caligrafia de Sung Ju Na retrata poemas de Yun Dong-ju – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Inventada no século 15, a escrita coreana hangul só começou a ser considerada a língua nacional no começo do século 20, com a chegada dos jornais à Coreia. Os letrados usavam ideogramas chineses e o hangul era relegado às classes baixas. Para serem acessíveis, os jornais eram escritos em hangul. “É assim que  se casa a escrita com a fala”, explica a professora Yun. “Esse é o contexto dos poemas da época da colonização. Na verdade, são os primeiros poemas a serem escritos em hangul.”

Isso também repercutiu nas formas poéticas. “A poesia antiga, em ideogramas chineses, tinha formas mais fechadas”, complementa. “Mas no século 20 a poesia passa a ser escrita em hangul, e começa a se utilizar o verso livre.”

A exposição Poesia Coreana está em cartaz até 6 de junho, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 21h30, e sábados, das 9h às 12h45, na Biblioteca Florestan Fernandes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP (Avenida Professor Lineu Prestes, travessa 12, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas no site da biblioteca e pelos telefones (11) 3091-4377 e (11) 3091-4587.


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