A exposição reúne obras de mais de 20 artistas plásticos, que utilizam o espaço da Universidade para ilustrar paisagens afetivas. A curadoria é de Hélio Schonmann e Altina Felício, que também expõem obras de autoria própria. Segundo Schonmann, a escolha dos participantes ocorreu de maneira orgânica e pensando no resultado de todas as partes juntas. “Quem faz arte é um solitário, o ateliê é um lugar de solidão. Existe um impulso, meu e dos outros, de trabalhar coletivamente”, afirma.
A variedade de técnicas também foi uma preocupação dos curadores, que buscaram manter diálogo entre cada parte. O artista e ativista Roberto Espinosa conta que o recorte temático foi amplo o suficiente para que as intenções dos convidados tivessem espaço. “Eu representei os animais do Cerrado, por exemplo, porque queria chamar atenção para a extinção desses seres que ajudam a formar ‘o lugar’ de todos os brasileiros. Outros colegas tiveram outros focos.”
O pertencimento é a pauta central de Lugares: os artistas foram inspirados pelas falas de pintores e poetas sobre se encaixarem nos ambientes. Uma das mais marcantes é um discurso de Mário de Andrade – autor participante do movimento modernista, que completa 100 anos em 2022. Na ocasião, ele disse que queria escrever poesias sobre sua terra natal. O paulistano Mário se referia à sua cidade, mas os locais que ilustram as pinturas, colagens e instalações são, em muitos casos, mais metafóricos. São retratados animais, plantas, estações de metrô e até mesmo tijolos e sapatilhas de bailarina, na forma de pinturas, colagens e instalações.
O visitante pode transitar pela galeria que fica no subsolo da biblioteca na ordem e velocidade que preferir, de modo a assimilar cada “lugar” retratado e tirar deles a significação que encontrar.
Beth Pacchini, aquarelista nascida na mesma cidade de Mário de Andrade, escolheu apresentar desenhos de troncos e folhas do Parque Água Branca, em São Paulo, para representar seu sentimento de pertencimento no universo artístico. “Eu fazia um curso de aquarela nesse parque, foi onde me encontrei”, afirma. “Sempre tive uma conexão especial com a natureza, sempre foi ‘meu lugar’, por isso ela está exposta em meu nome.”
Hélio Schonmann conta que, em sua obra, procurou abordar os lugares como sua identidade e que a ideia de uma exposição veio durante a pandemia da covid-19, quando “o mundo era pequeno visto de uma janela”. Por isso, seus quadros são “o outro lugar” que habita.
A exposição Lugares, com curadoria de Hélio Schonmann e Altina Felício, fica em cartaz até 17 de novembro, de terça-feira a domingo, das 10 às 21 horas, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP (Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2648-0310.