Visitas de judoca japonês tiveram papel essencial na consolidação do esporte no Brasil

Quando Sumiyuki Kotani esteve no Brasil pela primeira vez, em 1939, maioria dos praticantes de judô era da colônia japonesa e modalidade era conhecida como jiu-jitsu

 15/05/2024 - Publicado há 2 meses     Atualizado: 12/06/2024 as 15:43

Texto: Diogo Silva*

Arte: Joyce Tenório**

A difusão do judô no Brasil foi grandemente influenciada pela imigração japonesa, iniciada em 1908. O modelo explicativo mais usual entre autores sugere que a introdução do judô se divide em duas vertentes: a “intencional” e a “ocasional”. A primeira é centrada nos pioneiros que utilizavam a modalidade como atividade profissional, participando de desafios e lutas por entretenimento. A segunda considera como principais introdutores os imigrantes que usavam a prática como modo de fomentar a cultura japonesa, e como ferramenta de socialização entre os imigrantes.

Para compreender a popularização da luta no país, o pesquisador Gustavo Maçaneiro, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, analisou a trajetória de Sumiyuki Kotani, judoca japonês que teve papel essencial na popularização da modalidade no Brasil, em suas visitas a partir de 1939. A pesquisa, realizada sob orientação do professor Emerson Franchini, consistiu na análise de diversas fontes bibliográficas, como jornais, relatos e até escritos do próprio Kotani. A principal fonte desses documentos foi a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e o acervo digital do International Research Center for Japanese Studies.

Kotani foi aluno de Jigoro Kano, criador do judô, cuja ideia era unificar os conhecimentos das antigas escolas de jiu-jitsu em um sistema que pudesse atender às demandas de sua época. Para isso fundou seu próprio dojo, o Kodokan. Neste começo, Kano e seus alunos, entre eles Kotani, viajaram pelo mundo para difundir a luta.

Na primeira visita de Kotani ao Brasil, em 1939, o judô ainda estava no seu início. Embora a comunidade japonesa tenha fundado a Federação de Judô e Kendô do Brasil (Hakkoku Jukendo Renmei) em 1933, conhecida como “Jukendo”, poucos brasileiros participavam de seus campeonatos. A maioria de seus membros fazia parte da colônia japonesa. Além disso, grande parte dos praticantes brasileiros naquela época ainda conhecia o judô por jiu-jitsu, erro compreensível tendo em vista a origem do esporte.

Aproximação

A partir dessa visita, Kotani assumiu um papel fundamental de aproximar o Kodokan à colônia japonesa, e ao judô do Brasil e seus praticantes. As informações transmitidas pelo judoca influenciaram até mesmo um grupo de pesquisadores da USP que, em 1940, realizou uma viagem de campo ao Japão. Buscando compreender melhor a cultura do país nipônico, esse grupo visitou o Kodokan para entender como o judô era praticado em seu país de origem. Um dos membros da comitiva, Mario Botelho de Miranda, permaneceu no Japão e tornou-se membro do Kodokan.

Após a Segunda Guerra Mundial, Kotani teve uma influência importante na reconexão da Confederação Brasileira de Pugilismo e o Kodokan. Ele também intermediou a realização do Mundial de Judô Masculino no Brasil em 1965. Segundo os autores do estudo, a pesquisa demonstrou que Kotani era visto no país como um herdeiro legítimo do legado de Jigoro Kano. Assim, assumiu “o papel de autoridade carismática e tradicional no Brasil”, impactando o alinhamento do judô no país aos ideais do Kodokan.

O estudo foi publicado no The International Journal of the History of Sport, sob o título Sumiyuki Kotani, the Kodokan Emissary to Brazil (Sumiyuki Kotani, o emissário do Kodokan no Brasil).

O judô é um dos esportes mais praticados no Brasil. Segundo a Confederação Brasileira de Judô, cerca de 2 milhões de pessoas praticam o esporte no país, número 12 vezes maior que o do Japão, que tem cerca de 160 mil praticantes. Essa popularidade se reflete em resultados nas grandes competições da modalidade. O judô brasileiro já conquistou 22 medalhas olímpicas (4 ouros, 3 pratas e 15 bronzes). Desde os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, o Brasil subiu ao pódio em todas as edições.

*Estagiário da Seção de Relações Institucionais e Comunicação da EEFE sob supervisão de Paula Bassi (adaptado para o Jornal da USP)
*Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado


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