Pesquisas recentes sobre diferentes tipos de câncer mostraram que, em alguns casos, os tumores cresceram e se espalharam pelo corpo com ajuda do sistema imunológico. Parece um contra-senso, afinal o sistema imune possui células que detectam outras células “com erros” e as destroem, prevenindo a formação de tumores.
Mas, sim, a ação do sistema imune também auxilia a metástase, conforme pesquisas atuais. O mecanismo envolve células como os neutrófilos, e uma substância chamada interleucina-17, a IL-17.
Como?
João Santana e Luciana Benevides, imunologistas do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, explicam que isso acontece quando a pessoa com câncer têm algum tipo de inflamação crônica, ou seja, persistente por bastante tempo.
A inflamação favorece tanto a formação do câncer, quanto o crescimento do tumor e a migração para outros lugares do corpo – a metástase. Ouça a entrevista para a explicação completa:
Crescer e espalhar
Segundo os pesquisadores, a IL-17, produzida por uma célula do sistema imunológico no local do tumor, é capaz de estimular o tumor a crescer.
O mecanismo também favorece a chegada de um tipo de neutrófilo – outra célula do sistema imune. O neutrófilo libera outras substâncias que ajudam o tumor: por exemplo, uma que estimula a formação de vasos sanguíneos no local. Consequentemente, o tumor passa a receber mais nutrientes e oxigênio, e pode se multiplicar ainda mais.
A ação dos neutrófilos também favorece que algumas células do tumor escapem e se fixem em outra região do corpo.
Nem tudo é má notícia
A influência do sistema imunológico em alguns pacientes com câncer permite pensar uma nova abordagem de tratamento: o uso de anti-inflamatórios.
O assunto foi tema da edição de 7 de abril da Revista Science – e o grupo brasileiro faz parte da fronteira do conhecimento nessa área.
Leia a revisão publicada na Science (em inglês)