Ana Paula conta que foi preciso fazer ajustes para tornar a leitura mais acessível, mas, apesar das adaptações ao formato, ela optou por não modificar ou atualizar a tese como forma de marcar um trabalho que foi muito importante em uma época em que havia menos estudos a respeito. “Aconteceram mudanças importantes ao longo desses anos na psicanálise, mas também é importante o registro de que o assunto, hoje mais naturalizado, era diferente naquele momento”, afirma Ana Paula ao Jornal da USP.
Cada capítulo do livro leva o nome de uma mulher diferente, mas todos representam histórias de uma mesma pessoa. O objetivo foi mostrar que cada mulher possui diversas características e tem direito a diferentes identidades. São elas: “Sandra: sobre a invisibilização das mulheres negras brasileiras”; “Sônia: uma história escravizada e seus rastros”; “Suzana e o retorno das algemas”; “Selma: sobre a servidão, o racismo e o sexismo”, e “Sofia e o tornar-se uma mulher negra”.
“Na pesquisa foi ficando claro que essas mulheres negras sofriam pressões sociais muito maiores do que as mulheres brancas, e sempre eram vistas em um papel de servidão. Colocar diferentes nomes serviu para mostrar que elas são múltiplas”, diz.
Uma modificação importante foi a narrativa dos acontecimentos: o livro é escrito em primeira pessoa, mostrando a perspectiva da autora para além dos dados da pesquisa.
Ana Paula conta que seu objetivo inicial não levava em consideração a cor de pele das mulheres que seriam parte do estudo, mas, conforme foi se aprofundando nas vivências, acabou percebendo a importância da questão racial na forma de socialização. “Provavelmente, se eu fizesse essa pesquisa hoje, a questão racial já faria parte da abordagem desde o começo, mas, na época, não foi algo que eu me dei conta antes de dar início a ela”, diz.
Segundo Ana Paula, dentro da psicanálise havia um apagamento das questões raciais tanto nas pesquisas quanto no atendimento a esses pacientes racializados. Ela conta que diversos analistas não levavam isso em consideração durante os atendimentos por uma questão sociopolítica e de manutenção dos privilégios. Mas se mostra esperançosa quanto ao avanço dessa temática dentro da psicanálise.
O livro Os Muitos Nomes de Silvana – Contribuições clínico-políticas da psicanálise sobre mulheres negras (Editora Blucher, 390 páginas) está disponível para compra neste link.
Na última quinta-feira (18), foi realizado uma live no YouTube para lançamento do livro, que contou com a participação de Ana Paula Musatti-Braga e da doutoranda em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da USP, Priscilla Santos de Souza, cuja pesquisa aborda as relações raciais e a psicanálise. Durante cerca de uma hora de evento elas comentaram sobre o processo de pesquisa e as perspectivas de cada uma sobre o desenvolvimento da psicanálise em relação às questões raciais ao longo dos últimos anos. Ao final da live, o público que a acompanhava pôde fazer perguntas para a autora.
Mais informações: e-mail ana@arco.coop.br, para Ana Paula Musatti-Braga