Estudo expõe realidade de alunos de pós-graduação brasileiros em meio à pandemia

Pesquisa com mais de 47 mil pós-graduandos de todo o país mostra que estresse, pressão das universidades e mudanças repentinas nas rotinas e métodos estão interferindo na produção de estudos e trabalhos

 25/08/2021 - Publicado há 3 anos
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Estar em casa é um fator limitante para os estudantes, pois muitos não têm acesso a todos os recursos disponibilizados pelas universidades e as pesquisas de campo não podem ser realizadas – Fotomontagem por Rebeca Alencar com imagens de Freepik e Pixabay

 

A mudança das aulas presenciais para aulas mediadas por tecnologia em 2020 foi bastante abrupta para os estudantes no Brasil, principalmente os de nível superior. De acordo com um estudo publicado na Global Student Survey, do site estadunidense de educação Chegg, sete em cada dez universitários brasileiros estão sofrendo de problemas de saúde mental devido à pandemia. Dos mil universitários entrevistados, 87% apresentam problemas de ansiedade e estresse.

A mesma situação foi confirmada por pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP que avaliou mais de 47 mil pós-graduandos ligados a universidades de todo o País. Os resultados mostraram que o estresse vivido por estes estudantes, com a pressão da universidade e as mudanças repentinas nos métodos e rotinas, está interferindo diretamente na produção dos trabalhos e pesquisas.

Integrante da equipe da EERP, o pesquisador e pós-graduando Alan Vinicius Assunção Luiz acredita que o estudo e trabalho remotos são fontes de estresse e ansiedade para os pós-graduandos, mas que o principal fator é a pressão da universidade. “Estar em casa é um fator limitador para nós, estudantes, pois não temos acesso a todos os recursos disponibilizados pela universidade e as pesquisas de campo não podem ser realizadas. Apesar de tudo isso, as universidades continuam cobrando o mesmo nível de excelência dos nossos trabalhos.”

Saúde mental abalada

Foto: Unsplash

Luiz afirma que os pós-graduandos estão se sentindo “muito pressionados pelas universidades, pois o prazo de entrega de trabalhos não foi alterado e, para alguns alunos, o período das bolsas continuava em andamento, o que significa que, ao final do curso, os alunos ainda teriam de realizar o trabalho de pesquisa, mas sem auxílio financeiro”. Para o pesquisador, conciliar os estudos, ajudar os professores em pesquisas e preparar os próprios trabalhos estão exigindo muito da saúde mental.

E os dados coletados na pesquisa reforçam a tese do pesquisador já que identificaram 17,6% dos participantes sofrendo com crises de ansiedade, pânico, depressão, insônia, medo e nervosismo, todos intensificados pela pandemia. Para amenizar o problema, Luiz sugere maior assistência das universidade aos alunos que estejam lidando com questões relacionadas à saúde mental.

Além das questões de saúde mental e da pressão sofrida pelos Programas de Pós-Graduação das universidades, 28,54% dos pós-graduandos avaliados pela pesquisa da EERP também se mostram insatisfeitos com as atitudes tomadas pelo governo federal. Nas análises dos relatos, conta o pesquisador, foram frequentes as críticas à falta de planejamento do Ministério da Educação e, também, das instituições de ensino. “Se as medidas de segurança da OMS tivessem sido postas em prática mais cedo, muitos dos problemas que os pós-graduandos estão passando poderiam ser amenizados”, afirma Luiz.

Para o estudo Impactos da covid-19 em alunos da pós-graduação, os pós-graduandos da EERP Alan Vinicius Assunção Luiz, Natássia Condilo Pitta, Álefe Saloum Cintra, Carlos Alexandre Curylofo Corsi e Artur Acelino Francisco Luz Nunes Queiroz, coordenados pela professora Ana Paula Morais Fernandes, coletaram e analisaram relatos de 47.191 pós-graduandos de universidades de todo o País via Facebook.

Ouça no player abaixo entrevista de Alan Vinicius Assunção-Luiz ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional.

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