Comer menos protege contra danos no fígado. E o cálcio é parte da explicação

Camundongos que comeram à vontade perderam mais células do fígado do que animais com a dieta controlada após sofrerem um procedimento similar ao transplante. Essa

 19/07/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 18/10/2019 às 11:33
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Camundongos que comeram à vontade perderam mais células do fígado do que animais com a dieta controlada após sofrerem um procedimento similar ao transplante. Essa é mais uma evidência de que ingerir menos calorias protege o organismo. Pelo menos em roedores.

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Restrição calórica

A pesquisa é feita com base na comparação entre camundongos que comem à vontade e camundongos que são alimentados com 60% da quantidade de ração que o outro grupo ingeriu. Estes animais passam por restrição calórica, no jargão científico.

Mas a restrição calórica está muito longe da ideia de passar fome. Não significa nem privação de comida, nem jejum intermitente, nem dieta low carb, nem qualquer outro procedimento da moda para emagrecer. Não gera estresse para o organismo.

Ela é simplesmente a quantidade razoável de alimento para o nível de atividade desses animais, que é… nenhum! Os camundongos que comem à vontade, depois de alguns meses, se tornam obesos pela falta de atividade física.

As mitocôndrias

A pesquisa faz parte do doutorado de Sérgio Menezes, orientando da professora Alicia Kowaltowski, do Instituto de Química da USP. Ele estudou especificamente as células do fígado dos camundongos.

Como trata-se de dieta e, portanto, da aquisição e do uso de energia pelo corpo, o grupo focou na atividade das mitocôndrias – a parte da célula responsável por produzir ATP, uma molécula que fornece energia para diversas atividades celulares.

Em estudos anteriores, a principal atividade contabilizada era a produção de espécies reativas de oxigênio – os famosos radicais livres. Eles são subprodutos das reações químicas que ocorrem nas mitocôndrias e podem danificar as células. Desta vez, porém, a capacidade de captar cálcio foi alvo das medições.

O cálcio

O cálcio não é muito tolerado pela célula. Para manter uma concentração menor desse mineral do que a que está no ambiente externo, existe um mecanismo de bombeamento de cálcio para fora do citoplasma. E que exige ATP.

Em algumas situações, o acúmulo do mineral não consegue ser evitado e as mitocôndrias realizam um importante resgate do equilíbrio celular ao absorver e inativar parte desses íons. O problema é que esse processo tem um limite.

Transição de permeabilidade mitocondrial

Atingido o limite, a membrana da mitocôndria, que deveria deixar entrar apenas algumas substâncias, perde essa seletividade.

Desse ponto em diante, começa a transição de permeabilidade mitocondrial. O cálcio é liberado e outros íons entram ou saem sem controle, o que inviabiliza a função da organela. Ao fim, ela para de produzir ATP.

Morte celular

Além de voltar a ter mais cálcio livre no citoplasma, a célula perde parte de sua maquinaria de produção de energia – justamente o que ela precisa para conseguir bombear o excesso de cálcio ou fazer suas atividades regulares. A consequência extrema desse processo é a morte celular por necrose.

Uma das situações em que o cálcio se acumula no citoplasma é a isquemia-reperfusão – ou seja, a interrupção do fornecimento de sangue para um órgão e, depois de alguns minutos, sua retomada.

Em humanos, é o equivalente ao que acontece em um transplante de fígado ou em um infarto.

Resultados da pesquisa

Os dois grupos de camundongos que passaram por esse processo de isquemia-reperfusão tiveram consequências bem diferentes. O grupo que comeu à vontade teve muito mais morte de células do fígado que o grupo que comeu menos.

Ao analisar as mitocôndrias, as dos camundongos em restrição alimentar conseguiram guardar quase duas vezes mais cálcio antes de atingir a transição de permeabilidade mitocondrial.

Os pesquisadores atribuíram a melhor performance do fígado desses camundongos a essa maior capacidade de captar cálcio.

O artigo com os resultados da pesquisa foi publicado na revista Free Radical Biology and Medicine.

 

Vídeos 1 e 2: Reportagem: Ana Paula Chinelli | imagens: Vitor Taveira Brandão | arte: Alan Petrillo e Daniel Hebling | edição: Ana Paula Chinelli e Alan Petrillo. Vídeo 3: Reportagem: Tabita Said e Caio Antonio. Edição: Alan Petrillo e Tabita Said.

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