“Deus está morto! “Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes?” O criador dessa frase e da conhecida expressão “eterno retorno” é o polêmico filósofo alemão, considerado, ao mesmo tempo, brilhante e contraditório. É justamente sobre filosofia e religião, e, mais especificamente, sobre a questão do budismo no pensamento de Friedrich Nietzsche, que trata a pesquisa publicada na revista Intelligere, em que Derley Menezes Alves propõe uma reflexão sobre as relações entre Ocidente e Oriente, ou seja, a relação entre, do lado ocidental, a filosofia de Nietzsche, e, do lado oriental, o budismo, constante objeto de interesse do pensador alemão.
A proposta do autor não é só apresentar um caminho para análise da relação entre Nietzsche e o budismo, mas também entre Arthur Schopenhauer, mestre de Friedrich, igualmente filósofo alemão, e o budismo. Schopenhauer é o criador da “ética da compaixão” e, em sua obra, nota-se o interesse pelo hinduísmo, sua “compreensão quanto à figura do Buda”, segundo Alves, e a aplicação de conceitos budistas em seus escritos, tais como samsara (a roda das encarnações) e nirvana (estado de libertação, plenitude e paz interior).
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Entre os autores que contribuem para o estudo do tema da pesquisa, Alves cita Freny Mistry, que aponta mais semelhanças do que diferenças entre Nietzsche e o budismo, como, por exemplo, a busca da conquista de si mesmo. Nesse cenário, para Alves, “desde sua origem a filosofia dialoga com a religião, seja polemizando com esta, seja concordando e fornecendo a ela suporte teórico”, e aí estamos falando do cristianismo que, segundo o autor, é um divisor de águas, no sentido de a filosofia sempre se posicionar a partir do cristianismo, concordando ou discordando dele.
A eclosão do movimento orientalista fez vir à tona tradições religiosas não monoteístas; desse modo, o “diálogo entre filosofia e religião se enriquece, posto ser possível aos filósofos conhecer livros sagrados como os da tradição budista”. Apesar de haver aproximações entre temas nietzschianos e budistas, uma segunda leitura, de acordo com Alves, entende que não há grande influência de tradições asiáticas em Nietzsche, pois são raras as “referências ao longo da obra a ideias orientais e pelo fato de que quando tais referências ocorrem de modo geral são exemplos e não o foco central da reflexão”.
Robert G. Morrison, segundo Alves, é outro autor a contribuir para o estudo do tema, ao observar uma “sede crescente pelos ditos do budismo” por parte de Nietzsche. Em Schopenhauer, Morrison encontra a tendência de olhar o budismo em consonância com “exemplos confirmatórios de sua visão de mundo”. Concluindo, Alves declara que o único intuito de sua pesquisa é apontar caminhos para uma ampla discussão sobre as relações entre Nietzsche e o budismo, visto que “a análise efetiva do tema não caberia em apenas um artigo”.
Derley Menezes Alves é professor no Instituto Federal de Sergipe e doutorando em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba.
ALVES, Derley Menezes. Filosofia, religião e o oriente: O caso Nietzsche. Intelligere – Revista de História Intelectual, São Paulo, [S.l.], v. 3, n. 1, p. 130-143, fev. 2017. ISSN: 2447-9020. DOI Disponível em: http://revistas.usp.br/revistaintelligere/article/view/114982. Acesso em: 06 mar. 2017.
Margareth Artur / Portal de Revistas da USP