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Em 1988, Dustin Hoffman popularizou o personagem Raymond no filme Rain Man, tornando conhecido, mundialmente, o transtorno do autismo e apresentando os problemas enfrentados por quem sofre de uma doença cujas causas são ignoradas, afetando 2 milhões de brasileiros e 70 milhões de pessoas no mundo. Para tratar essa complexa questão, conta-se, atualmente, com um tratamento inovador – a terapia com cavalos, ou equoterapia, indicada na socialização e integração emocional e educacional dos portadores de vários tipos de transtornos ligados ao contato pessoal com o meio em que se vive e com o outro.
O objetivo dessa técnica e método terapêutico é motivar a inclusão social de quem vivencia essas dificuldades. Bender e Guarany, em artigo recém-publicado na Revista de Terapia Ocupacional da USP, buscam estudar o efeito da equoterapia no desempenho social de crianças e adolescentes com autismo, doença que acomete mais os meninos, e comparar com aqueles que não passaram por essa terapia. O diagnóstico para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) só é concluído quando da constatação de deficiências sociais e de comunicação e quando se observa a presença de comportamentos repetitivos e restritivos nos indivíduos.
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Estudos atuais têm demonstrado que o autismo é causado por vários fatores e depende de componentes genéticos eambientais, interferindo na vida diária como “lazer, sono e descanso, no brincar, na escola, na participação social e no trabalho”. O artigo mostra a pesquisa das autoras no Rio Grande do Sul, com cuidadores que utilizam e os que não utilizam, em crianças e adolescentes autistas, a técnica da equoterapia, a qual, embora tenha se consolidado nos últimos anos, “ainda não é acessível à população como um todo, devido ao custo elevado da prática e a escassez do serviço em algumas regiões do país”. A equoterapia apresenta resultados positivos em relação ao autocuidado, tais como as práticas alimentares e as de higiene pessoal, estimuladas pelos terapeutas ocupacionais e, claro, pelos cavalos, pois os pacientes alimentam, escovam e participam do banho desses animais.
As autoras também salientam a importância da estimulação de habilidades motoras, como caminhar, correr e pular, por exemplo, nos indivíduos autistas, visando à qualidade de vida destes últimos, que pode ser proporcionada pelo cavalo, “como um agente facilitador durante as atividades, mas utilizando-se das potencialidades do cavalo como estimulador dos componentes motores”. Apesar de não serem constatadas diferenças significativas entre os autistas praticantes e os não praticantes da terapia em relação à interação social, os estudos atuais apontam respostas otimistas como melhoras no humor, no contato visual, na expressão verbal e no comportamento em grupo.
A grande dificuldade do autista é a sociabilidade, sendo esta uma necessidade fundamental na vida de todo ser humano.
Nesse âmbito, de acordo com Bender e Guarany, por serem animais extremamente sociáveis, “que irão responder a estímulos humanos muito sutis”, os cavalos passam a ser uma alternativa produtiva de auxílio terapêutico para crianças e adolescentes portadores do transtorno, visto que “é no contexto das relações sociais que emergem a linguagem, o desenvolvimento cognitivo, o autoconhecimento e o conhecimento do outro”.
Daniele Dornelles Bender é graduada em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de Pelotas e terapeuta ocupacional no Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas, RS.
Nicole Ruas Guarany é doutora em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e docente no curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Pelotas, RS.
BENDER, Daniele Dornelles; GUARANY, Nicole Ruas. Efeito da equoterapia no desempenho funcional de crianças e adolescentes com autismo. Revista de Terapia Ocupacional da USP, Brasil, v. 27, n. 3, p. 271-277, dez. 2016. ISSN: 2238-6149. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rto/article/view/114667. Acesso em: 15 fev. 2017.
Margareth Artur / Portal de Revistas da USP