O desgaste nas estruturas do joelho pode causar muita dor e incapacidade funcional. Uma nova técnica que veio dos Estados Unidos está sendo aplicada em pacientes do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas (HC) que sofrem com artrose moderada. O procedimento é minimamente invasivo e reconstrói o osso subcondral (que fica abaixo da cartilagem), lesionado a partir da perda do volume da cartilagem que envolve toda a estrutura do joelho.
A subcondroplastia consiste no preenchimento das áreas lesionadas com material sintético pastoso à base de fosfato de cálcio. A técnica, que vem sendo aplicada por meio de protocolo de pesquisa no HC da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) em 30 pacientes entre 40 e 75 anos, tem se destacado na área médica de ortopedia por seus resultados surpreendentes. Segundo o ortopedista Marco Demange, chefe do grupo de joelho do IOT, “logo após a cirurgia, que dura em média 30 minutos, os pacientes não mais se queixam de dor e, depois de um ano, há relatos de completa recuperação”. A proposta é melhorar a qualidade estrutural do osso subcondral afetado e proporcionar a reconstrução óssea local a fim de evitar a progressão da artrose.
A cirurgia é realizada com o auxílio de um exame de radioscopia que mostra com precisão em um monitor a área lesionada que precisa ser tratada. Através de uma pequena incisão no joelho, a pasta de fosfato de cálcio é introduzida por uma cânula até a área lesionada que irá substituir os defeitos ósseos da parte interna do joelho (o osso subcondral). Segundo Demange, a substância estimula a produção óssea nas regiões onde existiam falhas. Conforme o material é absorvido, há uma recuperação da medula óssea no local, o que faz com que o osso se torne novamente saudável. Horas depois da cirurgia, os pacientes já conseguem andar sem dor e, uma semana depois, voltam à rotina normal, explica.
Demange explica que a subcondroplastia é indicada apenas para pacientes com níveis médio e leve de artrose, quando existe uma lesão no osso que está logo abaixo da camada de cartilagem. Para os pacientes que sofrem de artrose mais avançada – aqueles que já apresentam inchaço ou deformidade nos joelhos (perna torta) e mudanças de alinhamento na região – são indicados outros procedimentos, como a cirurgia para colocação de próteses.
Microfraturas
A artrose atinge no mundo cerca de 18% das mulheres com mais de 60 anos de idade e quase 10% dos homens na mesma faixa etária. A doença é multifatorial. Muitas vezes causa dores intensas e incapacitantes e acomete toda a articulação do joelho – cartilagem, osso menisco, ligamentos, tecido sinovial e musculatura. As lesões do osso subcondral contribuem como fator importante na evolução da artrose.
Devido ao desgaste da cartilagem pela sobrecarga de peso ou pela fadiga das articulações (em virtude da obesidade, uso de salto alto, movimentos repetitivos e esporte de impacto, por exemplo), o osso subcondral sofre trincas que causam dores e limitação de movimentos. A subcondroplastia atua na recuperação destas fissuras dos ossos.
Quem apresenta lesão medular óssea na artrose tem até nove vezes mais chance de precisar de cirurgia de prótese total do joelho durante o tratamento. Por esse motivo, pesquisadores buscam terapias alternativas mais direcionadas ao osso subcondral para preservação da articulação.
Embora ainda não esteja disponível para a população pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a subcondroplastia surge como um novo conceito de tratamento para artrose. “Cura a dor causada por lesão óssea e previne uma possível colocação de prótese”, ressalta Demange. A conclusão do estudo deve acontecer em 2018, quando serão avaliados todos os benefícios da subcondroplastia e sua viabilidade econômica. Para estar disponível no SUS, dependerá de políticas públicas vindas do Ministério da Saúde.
Avaliação do uso da técnica de subcondrosplastia no tratamento das lesões medulares ósseas foi tema de artigo científico publicado em janeiro de 2017 na Revista Brasileira de Ortopedia e Traumatologia: Subcondroplastia no tratamento de lesões medulares ósseas no joelho – Experiência inicial, que é assinado por Marco Kawamura Demange e outros pesquisadores.
Mais informações: e-mail demange@usp.br, com 30Marco Demange