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Um aparelho que permite a realização de exames oculares de maneira prática, barata e com o uso de smartphones. Esse é o projeto desenvolvido por três ex-alunos da USP, em São Carlos, que venceu o Falling Walls Lab São Paulo, etapa classificatória da competição global que incentiva a criação de soluções de alto impacto na sociedade. José Augusto Stuchi, um dos autores do projeto, irá representar o Brasil na final da competição, que será realizada em novembro, na Alemanha. Ele é graduado em Engenharia de Computação, curso oferecido em conjunto pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) e pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC).
O equipamento desenvolvido é o SRC – Smart Retinal Camera, versão portátil do retinógrafo, que é utilizado em exames de retinografia para observar e registrar fotos da retina. “Nós redesenhamos todo o projeto óptico e eletrônico e transformamos o retinógrafo em uma miniatura, podendo, assim, ser acoplado a um smartphone”, explica José Augusto. Ele conta que, apesar do sistema óptico ser reduzido, as imagens obtidas pelo aparelho têm qualidade tão boa quanto a dos aparelhos tradicionais, sem contar que o custo para sua produção é bem menor. O SRC é o primeiro protótipo de retinógrafo portátil do Brasil a utilizar smartphones para a realização de exames.
No País, mais de 6 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência visual, porém, 85% dos municípios brasileiros não possuem oftalmologistas. A portabilidade e o baixo custo do SRC podem facilitar a expansão de exames e atender aqueles que não podem se deslocar aos consultórios. “Imagine que a pessoa está acamada e não consegue ir até a clínica fazer o exame. Um operador, que não precisa ser médico, pode ir até a casa do paciente e realizar todos os procedimentos. Posteriormente, essas imagens ficariam disponíveis em um site para acesso dos médicos, que dariam o diagnóstico a distância”, diz José Augusto, que hoje faz doutorado em Engenharia de Computação na Unicamp.
A facilidade para transportar o aparelho também pode possibilitar seu uso em campanhas para a realização de exames em lugares distantes e que não possuem retinógrafos. O tamanho reduzido facilita, ainda, a utilização em crianças. Elas costumam ter dificuldade em se posicionar corretamente com a testa, queixo e cabeça em frente ao aparelho convencional. “Diagnosticar desde cedo uma doença possibilita que você previna e trate o paciente para que ele não fique cego. Por ano, 500 mil crianças perdem a visão no mundo e 80% de todos os casos de cegueira do planeta são evitáveis”, afirma o pesquisador.
Segundo José Augusto, fomentar a maior distribuição de retinógrafos pelo Brasil contribuiria não somente para a realização de mais exames, mas também para estudos específicos sobre as doenças e a melhor forma de combatê-las. “Após classificarmos os tipos de patologias, poderíamos fazer um mapeamento que mostrasse qual a incidência de cada uma, assim como os locais mais afetados no País. Com isso, o governo poderia atuar de forma direta nos Estados ou regiões mais comprometidas.”
A ideia do projeto nasceu há cerca de dois anos. José Augusto Stuchi, com o engenheiro eletricista Flavio Vieira e o físico Diego Lencione, ambos formados pela USP, em São Carlos, sempre se interessaram pela área da saúde, tanto que os três desenvolveram suas pesquisas de mestrado aplicadas à retinografia. Além da paixão por esse campo, o trio possui outra motivação: “O irmão do Diego tem um problema no olho desde criança, o que nos incentiva muito nessa missão”, relata José Augusto.
O envolvimento no projeto levou os três idealizadores a fundar, em março deste ano, a startup Phelcom, empresa focada em criar produtos inovadores, combinando soluções na área de óptica, eletrônica e computação. O desenvolvimento do retinógrafo portátil é financiado pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A expectativa dos pesquisadores é de que o protótipo, que ainda não foi testado em humanos, seja comercializado já no primeiro semestre de 2018.
Falling Walls Lab
No dia 19 de setembro, os ex-alunos da USP tiveram a oportunidade de mostrar o potencial do projeto durante a final do Falling Walls Lab São Paulo. No total, 94 projetos foram inscritos e apenas 14 selecionados para participar da final. O evento premiou as três melhores ideias com capacidade de impacto na sociedade e os participantes tiveram apenas três minutos para apresentá-las em inglês para um júri composto de membros da academia, instituições de pesquisa e gestores de grandes empresas. “Foi uma surpresa! Expectativa a gente sempre cria, mas havia projetos muito bons e a chance de ganhar era muito pequena”, conta José Augusto, que foi o responsável pela apresentação ocorrida em São Paulo, no auditório do Instituto de Física da USP.
A etapa brasileira foi classificatória para a final da competição, que ocorrerá entre os dias 8 e 9 de novembro, em Berlim, quando outros 99 vencedores de diversos países irão mostrar suas ideias. “Depois da nossa apresentação, duas pessoas já vieram falar com a gente sobre a possibilidade de uso do nosso retinógrafo para detecção e tratamento de suas patologias. Isso vale mais que o prêmio: conversar com quem tem o problema e poder ajudá-los será nossa maior recompensa”, finaliza José Augusto Stuchi.
Henrique Fontes/Assessoria de Comunicação do ICMC
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