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A pesquisa utilizou células dendríticas para medir a capacidade de proliferação dos linfócitos T, células sanguíneas do sistema de defesa do organismo que combatem o câncer. “As células dendríticas, que também fazem parte do sistema imune, são capazes de apresentar as proteínas produzidas pelas células do câncer para os linfócitos T”, diz a pesquisadora Mariana Pinho, que realizou o trabalho.
Mariana afirma que a identificação do câncer pelos linfócitos é mais difícil porque as células da doença, que eram normais, se transformaram, mas possuem muitas proteínas similares às das demais células do corpo. “Os linfócitos T proliferam quando entram em contato com as células dendríticas, e saem pelos tecidos à procura de um alvo específico, no caso, as células do câncer.”
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A técnica foi criada pela pesquisadora italiana Federica Sallusto, que utiliza monócitos (células precursoras das células dendríticas, existentes no sangue) para identificar a resposta imune a vírus e bactérias. “Como essa resposta é mais intensa, há mais células específicas de defesa”, observa a pesquisadora do ICB. “No caso do câncer, a técnica não é tão eficiente porque o número de linfócitos T específicos é menor, e como se trata de uma doença crônica, o linfócito já viu o antígeno há muito tempo e está exaurido. Embora a célula dendrítica seja mais difícil de obter, ela é mais potente para estimular os linfócitos T.”
Para estudar a técnica, foram utilizadas células tumorais de câncer de mama. “Em laboratório, essas células são ‘estouradas’, de modo que liberem todas as suas proteínas, formando uma espécie de ‘sopa’ onde são colocadas as células dendríticas”, descreve Mariana. A análise revelou que cada paciente de câncer de mama tem uma quantidade de linfócitos diferente. “Existem diversos tipos de câncer de mama, assim, já era esperada uma diferença; no entanto as análises mostraram que o número varia mesmo entre pacientes com o mesmo tipo de câncer.”
A pesquisadora aponta que a imunoterapia é o quarto grande pilar do tratamento do câncer, ao lado da cirurgia, da radioterapia e da quimioterapia. “Basicamente, a imunoterapia pega o sistema imune e faz com que ele combata o câncer, por meio de diversas estratégias, como ‘tirar o freio’ do sistema imune, aumentar o número de linfócitos T, entre outras”, explica. “Por isso são necessárias ferramentas para saber quantos linfócitos T específicos para o tumor o paciente possui e como eles estão.”
A técnica será aplicada nos testes clínicos de vacinas para pacientes com glioblastoma, um tumor agressivo que atinge o sistema nervoso central, com a vacina servindo como estímulo para aumentar o número de linfócitos T que combatem a doença. “A maior importância do método é na parte laboratorial, para entender como alguns pacientes respondem bem aos diferentes tratamentos e outros não”, destaca Mariana. “A técnica visualiza a resposta imune contra os tumores, que muda com a imunoterapia, desse modo é importante saber como o paciente está reagindo, para avaliar o tratamento ideal.”
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.A pesquisa de Mariana foi orientada pelo professor José Alexandre Barbuto, do Laboratório de Imunologia de Tumores do Departamento de Imunologia do ICB. As pesquisas com a vacina para glioblastoma são realizadas no laboratório, com a supervisão do professor Barbuto.