Universidades intensificam medidas para coibir assédio e criar ambiente mais saudável

Parceria firmada entre 28 instituições norte-americanas busca mapear assediadores e deixar o ambiente universitário mais seguro; no Brasil universidades criam órgãos internos na mesma linha de atuação

 25/11/2022 - Publicado há 2 anos
Por
Dados do Instituto Avon mostram que uma em cada quatro mulheres já sofreram assédio no ambiente universitário – Foto: PixaBay/Geralt
Logo da Rádio USP

Nos Estados Unidos, um grupo de universidades e centros de pesquisa se uniram para mapear os históricos de assédio dentro das instituições e criar políticas conjuntas para evitar esses eventos.  Segundo pesquisa realizada pela Associação das Universidades Norte-Americanas, cerca de uma em cada quatro mulheres que frequentam o ambiente universitário afirmam que sofreram assédio sexual. 

Diante desse cenário e outros escândalos sobre acusações de assédio envolvendo professores e outros funcionários das instituições, um grupo de 28 instituições americanas, sendo a grande maioria formada por universidades, faculdades e centros de pesquisa, resolveu criar um conjunto de procedimentos para identificar candidatos que possuem histórico de assédio sexual durante o processo de contratação. 

Adriana Alves é coordenadora do USP Mulheres – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Essas instituições passaram a exigir que os candidatos declarem quaisquer descobertas ou investigações por má conduta sexual e fazer mais perguntas sobre o passado do candidato; com isso, as universidades acreditam conseguir criar um ambiente mais saudável. 

Adriana Alves, professora do Instituto de Geociências (IGc) e coordenadora da área de Mulheres, Relações Étnico-Raciais e Diversidades da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento vê com bons olhos essa estratégia das universidades norte-americanas para evitar casos de assédio. “É muito mais complexo exonerar alguém após a sua contratação, principalmente no modelo de contratação brasileiro, do que se resguardar de todos os seus meios para evitar contratar uma pessoa com histórico complicado de relações interpessoais.”

A luta contra a violência nas universidades brasileiras

No Brasil, segundo dados publicados pelo Instituto Avon, em parceria com o instituto de pesquisa Data Popular, cerca de 67% das mulheres brasileiras que frequentam o ambiente universitário, alunas, professoras ou funcionárias já sofreram algum tipo de agressão, seja ela física, moral, sexual ou psicológica. 

Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), o assédio moral pode ser configurado como condutas abusivas por meio de palavras, comportamentos, atos, gestos ou escritos que podem trazer danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo o seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho. Já o assédio sexual viola a dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais da vítima, tais como a liberdade, a intimidade, a vida privada, a honra, a igualdade de tratamento. 

Na USP, o movimento é para criar um ambiente cada vez mais saudável. Segundo Adriana Alves: “O que nós estamos fazendo desde a criação do escritório do USP Mulheres são campanhas educativas. Porém, mais do que as iniciativas institucionais, eu acredito que a nova geração de mulheres que entram na USP já trazem uma assinatura de tolerância zero sobre essas atitudes”, afirma. 

Danielle Palma de Oliveira é presidente da CAV-Mulheres USP Ribeirão Preto – Foto : Currículo Lattes

Adriana completa dizendo que nos últimos anos, a quantidade de denúncias e interpelações por parte das vítimas ou testemunhas vem aumentando. Entretanto, apesar do aumento no número de denúncias, o número de casos ainda é bem maior. 

Para Danielle Palma de Oliveira, professora do Departamento de Ciências Farmacêuticas da USP em Ribeirão Preto (FCFRP-USP e presidente da CAV-Mulheres, Comissão Para Apurar Denúncias de Violência Contra as Mulheres e Gênero no Campus de Ribeirão Preto, um dos maiores motivos dessa subnotificação é o medo. “Isso não ocorre apenas nas universidades, mas um dos grandes motivos para haver essa subnotificação é o medo de sofrer algum tipo de represália”, afirma a professora. 

Adriana completa dizendo que os movimentos internacionais de combate ao assédio demonstraram que quanto mais informações as pessoas têm sobre o tema e se articulam nessa luta, mais denúncias aparecem. O que faz com que a pessoa acusada seja investigada e, se comprovada, seja punida de maneira correta.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.