Nos Estados Unidos, um grupo de universidades e centros de pesquisa se uniram para mapear os históricos de assédio dentro das instituições e criar políticas conjuntas para evitar esses eventos. Segundo pesquisa realizada pela Associação das Universidades Norte-Americanas, cerca de uma em cada quatro mulheres que frequentam o ambiente universitário afirmam que sofreram assédio sexual.
Diante desse cenário e outros escândalos sobre acusações de assédio envolvendo professores e outros funcionários das instituições, um grupo de 28 instituições americanas, sendo a grande maioria formada por universidades, faculdades e centros de pesquisa, resolveu criar um conjunto de procedimentos para identificar candidatos que possuem histórico de assédio sexual durante o processo de contratação.
Essas instituições passaram a exigir que os candidatos declarem quaisquer descobertas ou investigações por má conduta sexual e fazer mais perguntas sobre o passado do candidato; com isso, as universidades acreditam conseguir criar um ambiente mais saudável.
Adriana Alves, professora do Instituto de Geociências (IGc) e coordenadora da área de Mulheres, Relações Étnico-Raciais e Diversidades da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento vê com bons olhos essa estratégia das universidades norte-americanas para evitar casos de assédio. “É muito mais complexo exonerar alguém após a sua contratação, principalmente no modelo de contratação brasileiro, do que se resguardar de todos os seus meios para evitar contratar uma pessoa com histórico complicado de relações interpessoais.”
A luta contra a violência nas universidades brasileiras
No Brasil, segundo dados publicados pelo Instituto Avon, em parceria com o instituto de pesquisa Data Popular, cerca de 67% das mulheres brasileiras que frequentam o ambiente universitário, alunas, professoras ou funcionárias já sofreram algum tipo de agressão, seja ela física, moral, sexual ou psicológica.
Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), o assédio moral pode ser configurado como condutas abusivas por meio de palavras, comportamentos, atos, gestos ou escritos que podem trazer danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo o seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho. Já o assédio sexual viola a dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais da vítima, tais como a liberdade, a intimidade, a vida privada, a honra, a igualdade de tratamento.
Na USP, o movimento é para criar um ambiente cada vez mais saudável. Segundo Adriana Alves: “O que nós estamos fazendo desde a criação do escritório do USP Mulheres são campanhas educativas. Porém, mais do que as iniciativas institucionais, eu acredito que a nova geração de mulheres que entram na USP já trazem uma assinatura de tolerância zero sobre essas atitudes”, afirma.
Adriana completa dizendo que nos últimos anos, a quantidade de denúncias e interpelações por parte das vítimas ou testemunhas vem aumentando. Entretanto, apesar do aumento no número de denúncias, o número de casos ainda é bem maior.
Para Danielle Palma de Oliveira, professora do Departamento de Ciências Farmacêuticas da USP em Ribeirão Preto (FCFRP-USP e presidente da CAV-Mulheres, Comissão Para Apurar Denúncias de Violência Contra as Mulheres e Gênero no Campus de Ribeirão Preto, um dos maiores motivos dessa subnotificação é o medo. “Isso não ocorre apenas nas universidades, mas um dos grandes motivos para haver essa subnotificação é o medo de sofrer algum tipo de represália”, afirma a professora.
Adriana completa dizendo que os movimentos internacionais de combate ao assédio demonstraram que quanto mais informações as pessoas têm sobre o tema e se articulam nessa luta, mais denúncias aparecem. O que faz com que a pessoa acusada seja investigada e, se comprovada, seja punida de maneira correta.