Wisnik fala sobre a sociedade brasileira e o culto à violência

Segundo Guilherme Wisnik, vivemos um grande culto reprimido da violência, que transparece na fascinação autoritária alimentada por parte expressiva da sociedade brasileira

 08/07/2021 - Publicado há 3 anos
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Na edição desta sua coluna, Guilherme Wisnik comenta alguns aspectos do comportamento do presidente Jair Bolsonaro, mas amplia o contexto para enquadrar em seu comentário a sociedade brasileira, principalmente aquela parcela que apoia o atual chefe da nação. Diz ele: “Quando analisado do ponto de vista psicológico, a gente percebe que o grande prazer que ele (Bolsonaro) tem, talvez o único, seja a destruição. O governo dele não é um governo que constrói nada, é um governo feito para destruir tudo, para destruir as instituições, para destruir as conquistas da Constituição de 88, para destruir a democracia e a República”. Em sua apologia ao uso das armas, Bolsonaro nutre o culto da morte, “daí a ideia de que seja um governo genocida”.

Apesar disso tudo, o presidente continua a ter uma popularidade muito grande com uma certa parcela do eleitorado, justamente aquela parcela da sociedade brasileira que traz entranhada o autoritarismo oriundo de “500 anos de exploração, de desigualdades, um país colonial, com escravidão, e que deixou marcas profundas, porque as revisões críticas desse processo não foram feitas na nossa história”. Nesse ponto, Wisnik vai além e diz que o atual governo se coaduna com o atual estado do mundo, de anestesia diante da violência e do culto da violência nesse estado anestesiado, ilustrando seu exemplo com “a difusão dos reality shows no mundo contemporâneo, de par com o prazer de muita gente em assistir aos chamados snuff movies (filmes em que as pessoas são assassinadas diante das câmeras) na deep web, que passaram a circular de forma muito mais livre pelo WhatsApp”.

Wisnik cita o filósofo esloveno Slavoj Zizek e sua tese segundo a qual o século 20 foi um século da paixão pelo real, em que a arte “procurou eliminar as mediações, as representações em arte […] para acessar o real diretamente, para que a arte fosse construção do real, para que a política fosse revolucionária”. De acordo com o colunista, “isso tudo se reverte num grande culto reprimido da violência, que aparece nessa fascinação autoritária de parte expressiva da sociedade brasileira e que precisa ser entendida, compreendida e transformada por nós”.


Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar  quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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