Smartwatches auxiliam no incentivo à atividade física, mas não têm eficiência comprovada

De todo modo, Paulo Mazzoncini de Azevedo Marques ressalva que os avanços tecnológicos na área da saúde são muito importantes e trazem, no geral, possibilidades muito boas de melhoria da qualidade no cuidado da saúde 

 14/03/2023 - Publicado há 2 anos
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Última novidade sobre os aparelhos é o registro de chamadas de emergência – Foto: Pixabay

 

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A tecnologia vem facilitando cada vez mais a vida das pessoas em áreas como a saúde. Aparelhos eletrônicos passaram a servir também como suporte de bem-estar e de monitoramento das atividades do corpo. Registrar batimentos cardíacos, contabilizar a quantidade de passos dados no dia, revelar os gastos calóricos são só algumas das funções que os smartphones e smartwatches mais atuais do mercado oferecem ao consumidor. A novidade sobre esses aparelhos é o registro de chamadas de emergência. 

O serviço funciona, por exemplo, em casos de alto impacto, quando dispositivos podem identificar a situação de um acidente e chamar automaticamente os serviços de emergência. Para o coordenador Paulo Mazzoncini de Azevedo Marques, do curso de bacharelado em Informática Biomédica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, os avanços tecnológicos na área da saúde são muito importantes e trazem, no geral, possibilidades muito boas de melhoria da qualidade no cuidado da saúde. 

Paulo Mazzoncini de Azevedo Marques – Foto: Lattes

Ele explica que os aparelhos funcionam na prática com sensores internos que captam funções biológicas, como batimentos cardíacos, pressão arterial, oxigenação sanguínea e também outros dados espaciais, como posição, velocidade e aceleração. Os valores medidos são usados como entrada em programas computacionais, os chamados algoritmos, que foram previamente ajustados para produzir uma determinada resposta na sua saída, dependendo dos valores na sua entrada. “Por exemplo, avisando de um acidente quando ocorre uma desaceleração brusca por uma colisão, ou uma provável morte, quando não se detecta mais batimentos cardíacos”, exemplifica. 

O professor alerta, no entanto, que a eficácia desses medidores de bem-estar não está comprovada. “Em se tratando de tecnologia em saúde, existem duas grandes categorias para serem consideradas: dispositivos para a saúde e dispositivos para o bem-estar,” afirma. O especialista explica que os dispositivos para a saúde, também chamados de dispositivos médicos, são aqueles voltados para prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, anticoncepção. Estes são regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e possuem precisão necessariamente comprovada para ter seu registro na agência. “Já dispositivos para o bem-estar, por outro lado, são destinados para encorajar e manter o bem-estar, como no acompanhamento de atividades físicas. Estes não são regulamentados, mas também não existe garantia efetiva de que funcionem de maneira adequada,” assegura.

Falso alarme

Imagem: Freepik

Recentemente, em alguns países, os serviços de saúde relataram ter recebido um número alto de falsas chamadas de emergência devido à ação automática dos aparelhos ao identificarem impactos relativos a acidentes. Sobre esse novo serviço, Marques diz que é fundamental algum tipo de regra ou regulamentação para a responsabilização do mau uso ou mau funcionamento. 

“Por um lado, é uma questão de educação do usuário para não aceitar produtos de baixa qualidade, pouco confiáveis e, por outro lado, uma questão de governança. As formas do uso desse tipo de funcionalidade precisam ser estabelecidas por uma autoridade competente. Se não é a Anvisa, já que não são dispositivos para a saúde, é preciso ter alguma outra autoridade que defina as formas de uso e regulamente como isso deve ser efetivamente utilizado”, declara o especialista. 

Uso diário

A estudante de Psicologia Francine Lino Borba, de 19 anos, não vive sem seu smartwatch. Segundo ela, o aparelho começou a fazer sentido em sua rotina quando passou a praticar atividades físicas.  “Inicialmente, quando eu ganhei ele, foi muito mais pelo relógio em si, eu ainda não praticava exercícios regularmente. Não via muito sentido no começo, tive uma grande resistência em começar a usar na verdade, porque, além de carregar a bateria do celular, eu tinha que carregar ele e, no começo, eu tive um conflito”, revela Francine. No entanto, ao começar a praticar exercícios, a estudante passou a usá-lo com frequência. “Ele virou meu melhor amigo”, pontua.

Francine Lino Borba – Foto: Arquivo Pessoal

Ela reconhece que o serviço não apresenta funções 100% eficazes, mas garante que supre suas necessidades atuais na contagem de batimentos, calorias, número de passos. “Ele sempre me mostrou coisas que inclusive eu nem percebia que estavam acontecendo e ações como, por exemplo, falar para ficar em pé quando estou muito tempo sentada”, relata. 

Em contrapartida, um ponto negativo, mas relevante, levantado por Francine, é o apego aos gastos calóricos. “Eu mesma já tive isso. O que era para ser uma coisa boa no começo, foi me deixando meio bitolada”, confessa. O conselho da estudante para casos como o seu é utilizar o aparelho como instrumento de auxílio e não como uma meta, “a ferro e fogo”, conclui.


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