Inteligência artificial traz avanços para a nutrição, mas enfrenta desafios e questões éticas

Segundo especialista da USP, existe uma crescente preocupação com a dependência de dados quantitativos na prática clínica, que pode deixar de lado a observação e o raciocínio clínico, que vão além de dados laboratoriais

 07/06/2024 - Publicado há 2 meses
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Mesmo com avanço da tecnologia, o desenvolvimento de planejamentos nutricionais e avaliações detalhadas necessitam de especialista – Foto: Freepik
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Atualmente existem vários aplicativos nutricionais que indicam diversos tipos de dietas de acordo com a necessidade do usuário. Com o mecanismo da inteligência artificial, o uso de ferramentas digitais para a criação de uma rotina alimentar saudável e regrada tende a aumentar. Assim, como em outras áreas, a chegada da IA deve revolucionar as pesquisas e direcionamentos nutricionais, mas há questões éticas a serem levadas em consideração, segundo especialistas na área de nutrição. 

Segundo Rosane Pilot Pessa, nutricionista e professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, pesquisadores utilizaram a técnica de inteligência artificial para desenvolver uma ferramenta computacional que vai poder, no futuro, contribuir  para o trabalho do nutricionista, gerando planos alimentares personalizados de uma maneira mais rápida e automática.

A professora, que também é integrante do Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP, diz que, com a IA, também é possível pesquisar novos sabores e combinações, “além da elaboração de fórmulas de alimentos conhecidos  para produzir ingredientes ou outras fórmulas totalmente vegetais”. A professora dá como exemplo a criação da carne artificial, ou seja, com a ajuda da IA, a elaboração de novas fórmulas para a criação de ingredientes permitirá ao consumidor encontrar uma variedade maior de opções nutricionais e, assim, espera-se tornar a dieta mais saudável e diversificada.

Desafios

Em consequência dos diversos avanços que o setor nutricional pode ter com o apoio da IA, existe uma crescente preocupação com a dependência de dados quantitativos na prática clínica, gerando diversos questionamentos acerca da efetividade e do respaldo dos profissionais da área. Essa dependência pode levar os profissionais de saúde a deixar de lado práticas como a observação e o julgamento clínico. “Nós estamos arriscados a deixar de usar a nossa intuição, o nosso raciocínio clínico, que vai além de dados laboratoriais, tabelas de composição de alimentos, antropometria e, principalmente, abandonar riqueza das relações pessoais”, pontua Rosane.

Para a professora, por se tratar de uma área que utiliza uma complexa árvore de decisões, que faz uso de elementos como dados clínicos do paciente e objetivos nutricionais, o processo de construção da dieta especializada necessita da participação de um especialista  “não apenas para a escolha adequada dos alimentos, mas também para a realização de diagnósticos precisos”.

Outro ponto abordado por Rosane é a diversidade cultural no Brasil, que leva as sugestões de dietas, por parte dos aplicativos, ainda necessitarem de pontos de melhoria relacionados ao processo de escolhas alimentares. “Temos diferenças importantes em relação a hábitos alimentares, inclusive nas preparações dos alimentos, nas diversas regiões do País, então é preciso incluir no plano alimentar outras possibilidades e que atenda pessoas de diferentes culturas.”

As questões alimentícias constantemente são tema de debates formais e informais, com isso, opiniões e argumentos errôneos fazem com que os desafios éticos se tornem um dos principais no campo alimentício. “Nas redes sociais, todos entendem sobre o assunto, emitem opiniões e até desvalorizam ou não reconhecem a competência dos nutricionistas”, analisa a professora.

Nesse sentido, a professora aleta: “Mesmo oferecendo diversos recursos nutricionais, a IA pode não oferecer informações que sejam precisas, já que não é possível, por meio dos aplicativos, garantir a segurança e considerar a avaliação clínica e genética do paciente”.

Assim, Rosane recomenda buscar recursos produzidos por universidades, associações de classe como os conselhos regionais e na Asbran (Associação Brasileira de Nutrição), além dos profissionais respaldados na área.

*Estagiário sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone

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