Além das belezas naturais e da felicidade de sua gente, ao Brasil ainda são creditadas outras duas características marcantes: a empatia e o acolhimento. Prova disso é que o País é referência mundial na área de transplantes de órgãos, com o maior sistema público de transplantes no mundo – estima-se que 95% dos procedimentos no País são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – e o segundo maior transplantador mundial, atrás apenas dos Estados Unidos da América. Isso, mesmo com o grande número de não doadores, pessoas que recusam a doação, cerca de 40%.
No País, o sistema público de transplantes gerencia todas as espécies de doação, seja de órgãos (rim, fígado, coração, pâncreas e pulmão) ou de tecidos (córnea, pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem e medula óssea). E no caso da doação de tecidos, os bancos têm, não só uma, mas importantes missões, “como captar, processar, armazenar e distribuir tecidos vindos de doadores”, como explica Carlos Alexandre Corsi, técnico no Banco de Tecidos Humanos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP.
Banco de Tecidos
Os bancos de tecidos são definidos como estabelecimentos de saúde que dispõem de instalações físicas, pessoas treinadas e técnicas específicas para a identificação e triagem de doadores de tecidos humanos. Em Ribeirão Preto, o Banco de Tecidos do HC-FMRP tem contribuído não só com doações a pacientes da própria unidade, mas para outros hospitais do País. “Além disso, nós também oferecemos materiais para outras pesquisas da USP, o que tem crescido muito”, diz Corsi.
Mas os bancos de tecido enfrentam alguns desafios. “Um dos principais é garantir que o receptor de um tecido doado não sofra nenhum tipo de dano”, o que envolve cuidados específicos nos processamentos, da entrada até a saída do tecido. “Por isso é tão importante construir um sistema de qualidade”, informa.
E os processos de trabalho num banco de tecidos para transplantes podem ser desafiadores. Corsi admite que “falar da doação em si é um desafio à parte”, já que a desinformação e a falta de conhecimento da área também jogam contra a doação de tecidos. Apesar do reconhecimento mundial do País como centro transplantador, “o número de não doadores, de pessoas que recusam a doação, é muito grande; é cerca de 40%. E quando a gente fala de tecidos, esse número aumenta ainda mais”.
Corsi conta que é visível o medo ou estigma das famílias em torno da doação de tecidos, acreditando ser um traço cultural do brasileiro não falar sobre o assunto que pode significar ajuda a muitas pessoas. Por essa realidade, o técnico acredita na educação, associada à ciência e técnicas dos bancos de tecidos, como “essencial para conseguirmos atingir a qualidade excelente e a distribuição”.
Trabalho premiado
Pela importância de seu trabalho, o Banco de Tecidos do HC-FMRP recebeu o selo em 2019c ISO 9001:2015. Trata-se do reconhecimento da qualidade, aplicável para todos os ramos de empresas, laboratórios e serviços de saúde. Conta Corsi que o selo confere a garantia da qualidade do processo para transplantes de órgãos e tecidos. “E, além da conquista do selo de Gestão da Qualidade 9001, a gente também conseguiu publicar um artigo sobre relato de experiência da implantação e validação deste selo no nosso Banco de Tecidos”, comemora Corsi.