Além de causar engarrafamentos e deixar mortos e feridos, acidentes de trânsito têm custo elevado para o Estado. Em 2014 o custo de acidentes nas rodovias federais brasileiras foi de R$ 12,3 bilhões entre despesas hospitalares, remoção e danos a veículos e danos à propriedade, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea). Dos gastos, 64% foram associados a vítimas.
No dia 1 de novembro foram instauradas mudanças na punição de infrações no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O valor de multas de excesso de velocidade de uso do celular pelo condutor aumentou e o uso de aparelhos eletrônicos, infração que antes considerava apenas o uso de celulares para atender ou efetuar ligações, passou de média para gravíssima e agora acrescenta sete pontos na carteira do motorista.
Para o professor de psicologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e especialista em comportamento no trânsito, José Aparecido da Silva, a aplicação de multas é efetiva para a redução de acidentes no trânsito. “Se estímulos como multas severas ou a suspensão temporária ou permanente da carta de motorista forem dados de forma contingente imediata, quase consequente ao comportamento inadequado, eles têm o caráter de modificar o comportamento”, afirma.
As medidas que levam à diminuição de acidentes e ao comportamento mais prudente no trânsito, envolvem, além da fiscalização, a adoção de ações para melhorar o fluxo do trânsito no meio urbano, defende o pesquisador da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, Thiago Hérick de Sá. “A punição é uma parte importante e acontece em qualquer cidade do mundo, a tolerância é mínima em relação a desvios de conduta no trânsito, mas a melhor solução é um conjunto de ações integradas. O papel do poder público deve agir na redução das velocidades, oferecer condições viárias decentes, melhoria das condições das calçadas”.
As consequências do trânsito imprudente e do deslocamento por meio de automóveis traz prejuízos à saúde que vão além das lesões causadas por acidentes. Segundo o pesquisador, o trânsito intenso de automóveis contribui para poluição do ar e sonora e favorece a violência interpessoal e o estresse.
Planejamento urbano sustentável e saúde da população
O pesquisador defende um planejamento urbano que favoreça a locomoção por meios alternativos, como bicicleta e caminhada, além de maior alcance do sistema de transporte público. “Uma ótima maneira de diminuir lesões no trânsito é diminuir a quantidade veículos motorizados, porque eles são o principal fator de risco. Quando você muda o planejamento urbano e o sistema de mobilidade na direção de um sistema que favorece a caminhada e o transporte público você também ajuda na diminuição de mortes”, afirma.
O investimento em calçadas e ciclovias traz benefícios, tanto à mobilidade urbana, quanto à saúde das pessoas que passam a utilizar os meios alternativos. A melhoria das condições destes espaços, ao incentivar o deslocamento ativo, diminui o fluxo de automóveis e favorece o exercício físico. Para o pesquisador, utilizar meios de deslocamento ao ar livre, como caminhada ou bicicleta, proporciona exposição às áreas verdes e encontros e interações com outras pessoas, que contribuem para a construção do senso de comunidade do cidadão.
Incentivo à boa conduta
Para incentivar a boa conduta no trânsito José Aparecido menciona a possibilidade de instituir reforços positivos, que concedem benefícios a motoristas que cometem poucas infrações. Entre os estímulos estariam, por exemplo, o desconto no Imposto Sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA) na aquisição de um veículo para condutores habilitados há muitos anos que cometeram poucas infrações e taxas mais elevadas para condutores com muitas multas ou infrações graves. “Como os economistas pensam que uma forma de controlar ou melhorar o crescimento do pib, controlar a inflação, é taxar as grandes fortunas, paralelamente, nós iríamos taxar aqueles que cometem mais acidentes de trânsito ou mais infrações, porque são essas pessoas que trazem um custo mais elevado para a nação”, defende.