Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) realizado na USP avalia a saúde mental de 2 mil participantes durante a pandemia. O objetivo é observar quais impactos mentais o distanciamento social tem causado, como o surgimento ou a piora da ansiedade e da depressão, por exemplo. As avaliações ocorrem de forma virtual, por meio de questionários, e são periódicas.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o professor André Russowsky Brunoni, do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP, explica que o estudo é dividido em quatro ondas e abrange o período da pandemia desde a rigidez inicial do distanciamento social até as etapas de flexibilização. Ele informa que houve um estudo parecido feito na Inglaterra com 30 mil participantes, cujo resultado apontou uma diminuição da depressão e da ansiedade ao invés de aumento, o que surpreendeu os pesquisadores, mas “uma das explicações é que o uso de tecnologia permite que as pessoas continuem conectadas e não fiquem com uma sensação de isolamento tão grande”. Os questionários do Elsa-Brasil também abordam o uso de mídias sociais, recursos digitais e adesão à quarentena.
O especialista informa que as doenças mentais demoram mais tempo para se manifestarem, portanto, é possível que uma onda de transtornos mentais ainda aconteça. “Quando estamos numa situação de muito estresse, como uma guerra ou uma pandemia, é como se nossa mente, nossa psique, entrasse num modo de sobrevivência e, depois que passa e as coisas começam a melhorar um pouco, vão aparecendo os transtornos mentais como repercussão do que ficou jogado para debaixo do tapete.”
Em relação ao estudo brasileiro, os dados sobre diminuição dos transtornos mentais não são conclusivos, porque precisam ser comparados com informações de profissionais que atuam em consultório e relatam, pelo contrário, um possível aumento de casos de depressão e ansiedade. Conforme Russowsky Brunoni, cerca de 20% da população possui algum tipo de transtorno mental e, devido à pandemia, teve piora no estado de saúde: “Os 20% que têm [transtorno mental] de fato pioraram, portanto, quem tem depressão teve a doença piorada, quem tem dependência química piorou o uso de drogas e assim por diante. Mas os 80% restantes [que não têm transtorno mental] não parecem ter tido piora”.
Para saber mais sobre o estudo, ouça a entrevista na íntegra pelo player acima.
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