As equipes da Fórmula 1, a principal categoria do automobilismo, contam com grandes investimentos e uma série de recursos financeiros, tecnológicos e humanos. Um dos principais objetivos é favorecer o desenvolvimento de carros mais rápidos e eficientes, que facilitem a conquista de mais vitórias nos campeonatos.
Essa busca incentiva um outro tipo de competição, que acontece fora das pistas: a corrida tecnológica. As montadoras desenvolvem e aprimoram uma série de equipamentos para melhorar o desempenho de seus carros.
Das pistas para as ruas
Que os carros da Fórmula 1 são superpotentes e equipados já era de se esperar. Mas essas tecnologias podem ser trazidas das corridas e aplicadas nos veículos comuns? O professor Marcelo Alves, do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica (Poli) da USP, responde: em geral, elas estão mais ligadas ao contexto de competição e alto desempenho, pois são pensadas para altas velocidades.
“Muitas coisas ficam só na pista. Elas não vão para os veículos de rua, seja por uma questão de custo, seja por uma questão de processo de fabricação, que não permite que elas sejam produzidas em massa”, afirma.
Alves cita um exemplo: materiais em fibra de carbono, utilizados em cerca de 90% da estrutura de um carro da F1. “Isso você pode até ter em um veículo superesportivo, de alto luxo, mas não vai ver em um veículo de rua”, diz o professor, ao comentar que o material ainda é muito caro para ser aplicado em larga escala.
Ainda assim, Alves afirma que outros aspectos interessantes podem, sim, ser trazidos das pistas para as ruas. Ele cita, como exemplo, a tecnologia de eletrônica embarcada e monitoramento do veículo, importantes para o funcionamento do motor, que sofre menos desgaste, e de outros sistemas como freios ABS, direção elétrica e câmbio automático.
Outro exemplo é o Sistema de Recuperação de Energia Cinética (KERS), que converte e armazena a energia das frenagens. Esse sistema aumenta a potência do carro, possibilita uma redução do consumo de combustível e é muito utilizado em veículos elétricos.
Aerodinâmica na temporada 2022
Com o início do campeonato de 2022, um novo regulamento define diretrizes para a construção dos veículos. Apesar de alterações mecânicas e da adoção de um combustível mais sustentável, com 10% de etanol em sua composição, a aerodinâmica é o conceito da vez.
Fernando Catalano, professor da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, lembra que a aerodinâmica foi tema de melhoria de performance de carros de rua, caminhões, ônibus e trens a partir da primeira crise do petróleo, na década de 1970, que encareceu o preço dos combustíveis.
Segundo ele, o aprimoramento da aerodinâmica na Fórmula 1 também pode trazer benefícios para a vida comum. “Se entende melhor quais itens aerodinâmicos provocam arrasto, ruído e sustentação, e é possível aplicar esses conceitos nos carros do dia a dia”, afirma. “Hoje a gente tem carros que pagam menos combustível por causa da aerodinâmica”, acrescenta.
No caso da Fórmula 1, os carros foram incrementados para aumentar sua estabilidade e reduzir a turbulência, favorecendo as ultrapassagens. As novas diretrizes resultaram em mudanças nos aerofólios e alterações no formato da parte de baixo do carro, para criar os chamados efeito-solo e downforce, fenômenos que “grudam” o carro no chão. Com essas mudanças, é esperada uma redução de 30% na perda de pressão aerodinâmica, o que aumenta a estabilidade de um carro que persegue outro logo à frente.
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