Na coluna Ciência e Cientistas, o físico Paulo Nussenzveig fala sobre o interesse científico envolvido em um tema muito discutido na última Copa do Mundo de futebol, as simulações feitas por jogadores em campo, como as do brasileiro Neymar e do francês Griezmann. “Segundo um grupo de pesquisadores da Austrália, tentativas de enganar os outros são comuns a todas as sociedades humanas e extremamente comuns no reino animal”, conta. “As tentativas de enganar ocorrem quando um indivíduo se beneficia ao sinalizar informação incorreta de modo a manipular um receptor.”
Em outubro de 2011, os pesquisadores publicaram o trabalho: Receptores limitam as tentativas de enganação em humanos: evidências a partir dos “mergulhos” de jogadores de futebol, na revista Plos One. “Os autores analisaram jogos de futebol profissional como maneira de investigar tentativas de enganação por parte de humanos, usando teoria de sinalização animal. Eles analisaram vídeos de dez jogos em seis ligas de alto nível de futebol profissional, num total de 60 partidas”, relata Nussenzveig. “O objeto de estudo eram as quedas de jogadores, divididas em duas categorias: ‘mergulhos’, em que os jogadores tentavam enganar os juízes, ou quedas em disputas de bola entre adversários (quedas acidentais, sem intenção de ‘cavar’ faltas, foram utilizadas apenas para garantir a capacidade dos observadores de diferenciar ‘mergulhos’ de ‘disputas de bola’).”
“De um total de 2.803 quedas observadas nas 60 partidas, 169 (6%) foram mergulhos e 2.633 (94%) foram disputas. Em média, os árbitros assinalaram faltas em 33% dos mergulhos e 45% das disputas (a disputa de bola pode levar à queda de um jogador sem que tenha ocorrido uma falta)”, aponta o físico. “A frequência de mergulhos observada cresce conforme o jogador fica mais próximo do gol adversário. Faltas assinaladas nessa zona representam uma chance maior de marcar um gol: a possibilidade de recompensa é um forte motivador para os atores, quero dizer, jogadores.”
Ouça mais no áudio acima.