“A destruição foi muito devastadora.” Esta é a avaliação de Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, sobre o balanço ambiental em 2022. Segundo ele, os desafios ambientais são muito grandes para o próximo ano, tendo em vista o retrospecto da área nos últimos anos.
Como foi 2022?
Em comparação com 2021, o desmatamento da cobertura vegetal cresceu neste ano: “Em 2022, nós tivemos 10.136 km², enquanto no ano passado foram 8.219 km²”, relata ele sobre a área desmatada. Durante o mandato de Jair Bolsonaro, com as lideranças de Ricardo Salles e Joaquim Álvaro Pereira Leite no Ministério do Meio Ambiente, o desmatamento teve um aumento de 214% em comparação aos quatro anos anteriores: foram 16.279 km² de 2014 a 2018 e 35.950 km² desde 2019.
Além da destruição intensiva da Floresta Amazônica, “tivemos também desastres ambientais que mereciam uma atenção redobrada por parte do governo federal”, analisa Côrtes. Com o orçamento reduzido para o combate e mitigação de mudanças climáticas, não se preveniram desastres como as chuvas intensas em Minas Gerais, Petrópolis e litoral nordestino, e a seca na Amazônia. “Com o avanço do desmatamento, vamos começar a ter redução de chuvas não só na região central do Brasil, mas dentro da própria floresta. Ou seja, a floresta já não conseguiria regenerar a umidade atmosférica necessária para as chuvas tropicais que a mantém ativa”, alerta.
As propostas de lei e emendas constitucionais enviadas ao Congresso Nacional também foram alvo de preocupação para o professor. Houve tentativas de acelerar a tramitação das alterações no Código Florestal e na Lei da Mata Atlântica, além do registro de mais agrotóxicos. Ao final de 2021, eram 562 liberados para uso e, atualmente, são 2.962, de acordo com o Sistema de Agrotóxicos Fitossanitário (Agrofit).
O que precisa ser feito em 2023?
Para os especialistas da área ambiental, a principal dúvida é quem será o ministro do Ministério do Meio Ambiente na próxima gestão, diz Côrtes. Os nomes cotados são os das ex-ministras Marina Silva e Izabella Teixeira, que já atuaram na pasta durante os governos petistas. Uma possível criação de um Superministério das Mudanças Climáticas também é fruto de curiosidade para os ambientalistas, haja vista a urgência da pauta.
O professor destaca as ações necessárias para o meio ambiente em 2023: reconstrução e rearticulação do MMA, reconstrução do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), reduzir e fiscalizar o desmatamento e verificar a possibilidade de revogação e de revisão jurídica das medidas antiambientais tomadas pelo atual governo federal.
A política energética e de combustíveis também deve ser revisada, na opinião dele. A priorização do etanol é um exemplo dessa conduta: “Nós já temos toda uma estrutura de produção, comercialização e utilização montada, mas isso não foi prioridade no governo atual”. Outros pontos de atenção mencionados foram a invasão de terras indígenas, o garimpo ilegal e a grilagem.
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