Dando sequência à série sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS), o Jornal da USP no Ar, no quadro UrbanSus, com o professor Marcos Buckeridge, do Instituto de Estudos Avançados da USP, e o professor Wagner Costa Ribeiro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, analisa o sexto objetivo. Ele trata do compromisso em assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e o saneamento para todos.
Os professores avaliam o tema como o mais importante a ser discutido, pois sem a resolução dos problemas dessa área, torna-se impossível dar seguimento aos outros objetivos propostos. Ribeiro ressalta que 2,1 bilhões de pessoas não têm acesso a água de qualidade, além de o crescimento agrícola, industrial e dos centros urbanos ter aumentado a demanda de água pela sociedade.
O Brasil é um país rico em água, porém, o cenário enfrenta três problemas principais: a má distribuição desse recurso pelo território – já que 70% da água do país se aglomera na região amazônica, onde apenas 20% da população brasileira vive -, a grande concentração de pessoas em regiões semiáridas, com secas sazonais e crises crônicas, e a escassez estrutural nas áreas metropolitanas do país, que dificulta o abastecimento de água na região de São Paulo, por exemplo.
Outro assunto tratado pelo professor da FFLCH foi a transposição do rio São Francisco. Ele avalia que, apesar de algumas regiões urbanas terem se beneficiado com a obra, a água ainda não chega para pequenas e médias propriedades. Um dos problemas encontrados foi a forma com que foi transportada a água, por meio de canaletas abertas que facilitam a evaporação e perda do recurso durante o trajeto, comenta Ribeiro.
Para o especialista, a questão do saneamento básico ainda é muito grave no Brasil: apenas 40% do esgoto é coletado no país. Segundo Ribeiro, a pauta é pouco debatida entre os candidatos à Presidência, mesmo que o saneamento básico em larga escala seja capaz de gerar empregos e diminuir contaminação da população por doenças hídricas. Ele também fala sobre uma nova tendência de junção de municípios em consórcio para realizar uma administração compartilhada do saneamento, mas a iniciativa é dificultada pelo Pacto Federativo.