Risco de desenvolver depressão poderia ser reduzido com melhor qualidade do sono, indica estudo

Cláudia Moreno comenta pesquisa segundo a qual a cada hora que uma pessoa matutina acorda mais cedo, seu risco de desenvolver depressão grave pode ser reduzido em 23%

 14/07/2021 - Publicado há 3 anos
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O estudo é importante na medida em que fornece dados quantitativos para avaliar melhor os riscos associados à falta de sono – Foto: tirachardz – freepik
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Uma pesquisa, que reuniu dados de mais de 800 mil pessoas, concluiu que a cada hora que uma pessoa matutina acorda mais cedo, seu risco de desenvolver depressão grave poderia ser reduzido em 23%. Os autores estudaram especificamente como era a relação entre ser matutino e desenvolver depressão, usando um banco de dados genéticos do Reino Unido. Com uma técnica de genética estatística chamada randomização mendeliana, estimaram se a pessoa era matutina ou não.

Publicado na Jama Psychiatry e desenvolvido por pesquisadores da University of Colorado Boulder e do Broad Institute of MIT and Harvard, esse é um trabalho importante, segundo a professora Cláudia Moreno, da Faculdade de Saúde Pública da USP, porque fornece dados quantitativos para avaliar melhor os riscos associados à falta de sono.

A interpretação dos resultados poderia ser extrapolada para populações com características similares às de áreas urbana que participaram do estudo. E eles acendem um alerta para a questão da manutenção do ritmo biológico e dos impactos da falta de sono para a saúde. “É importante a gente pensar que, se você fica sem comer, sem beber água, você morre. Mas você também morre se você ficar sem dormir. E não demora muito. Dependemos, de fato, do sono para viver”, alerta a professora, que é especialista em estudos do sono.

Espécie humana é diurna

As funções do organismo são sequenciais e seguem o chamado ritmo circadiano. Quando as pessoas vão dormir, o hormônio melatonina aumenta, deixando de ser produzido no momento do despertar. Começa então a liberação de cortisol, responsável pelo estado de alerta, que vai se esvaindo até que haja novamente o início de liberação de melatonina, preparando o corpo para o descanso.

Essas funções são um preparatório para o organismo dormir à noite e ficar acordado durante o dia, porque a espécie humana é diurna. Mas há uma pequena variação, chamada de cronotipo: há pessoas mais matutinas — que foram o foco do estudo —, vespertinas e ainda aquelas intermediárias, que não sofrem tanto com o dormir e acordar cedo ou muito tarde.

Essas características são determinadas geneticamente e sofrem influência de alguns fatores ambientais, como a exposição à luz, o fotoperíodo (número de horas de luz natural existente em um dia) e também da vida social da pessoa. A quebra desse ciclo, com a inversão dos ritmos biológicos, não está relacionada somente à depressão, que foi o foco do estudo. Outras pesquisas mostram evidências dos riscos para a saúde em trabalhadores de turno, por exemplo, por conta das restrições de sono.

Inversão crônica do ritmo biológico pode causar outras doenças

“A principal evidência dessas alterações vem de pessoas que tentam inverter essa relação que a gente tem com o claro e o escuro”, explica a professora, quando as pessoas ficam acordadas durante a noite, o período escuro, e tentam dormir durante o dia. “Já sabemos, por exemplo, que esse sono diurno é menor em pelo menos duas horas em média para as pessoas que trabalham à noite.”

Uma série de doenças está associada à inversão prolongada do dia e da noite, o que altera o ciclo natural de sono. Caso isso ocorra cronicamente, aumentam as chances de desenvolver problemas gastrointestinais, cardiovasculares, câncer de próstata nos homens e câncer de mama nas mulheres. “O risco aumenta muito, dependendo das características e do tempo dessa inversão”, diz a professora, com efeitos diferenciados em quem passa uma noite acordada ou em quem passa vários anos com a rotina desregulada.

No caso de gestantes que trabalham à noite, a desregulação do ciclo natural de sono pode estar associada a abortos espontâneos e à diminuição do peso do bebê ao nascer. São riscos associados ao trabalho noturno, como explica Cláudia: “Quando conseguirmos divulgar isso para a população e as pessoas começarem a prestar um pouco mais de atenção nas necessidades delas, vamos conseguir dizer, por exemplo, que gestante não deveria trabalhar à noite”.


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