Inseticidas da classe dos piretroides foram muito utilizados no Estado de São Paulo no combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor de diversos agentes etiológicos como o vírus da dengue, chikungunya, zika e febre amarela urbana. Contudo, o uso contínuo dessa classe de produtos selecionou mutações aleatórias e hereditárias, proporcionando resistência em algumas linhagens, de modo que as atividades desempenhadas pelo vetor não fossem afetadas, mesmo sob efeito desses compostos. Estudo apontou que essas mutações resultam em aumento significativo da atividade locomotora de algumas populações do mosquito. O Jornal da USP no Ar conversou com Bruno Magalhães Nakazato, autor da pesquisa e mestre pelo Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP.
A dissertação de Nakazato avaliou a locomoção de populações de Aedes aegypti resistentes a inseticidas de municípios do Estado de São Paulo. Entre os municípios analisados, o pesquisador cita Santos, Ribeirão Preto, Barretos, Marília e Campinas. Ele destaca que, nas regiões de Santos e Barretos, as populações do mosquito possuíam um perfil com altas taxas de resistência, enquanto Campinas e Marília apresentavam taxa menor. O estudo só utilizou fêmeas, já que são elas que transmitem as doenças.
A ideia inicial, conta o especialista, surgiu a partir de um trabalho realizado na Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), sob a orientação de José Eduardo Bracco, em que as mutações em populações paulistas de Aedes aegypti eram monitoradas. No mestrado, o conhecimento adquirido no projeto se uniu à questão da locomoção, sob a supervisão da orientadora Tamara Nunes de Lima Camara. Assim, foi avaliado quantitativamente e em condições laboratoriais o deslocamento dos mosquitos entre dois pontos. Para isso, Nakazato utilizou uma incubadora de precisão, instrumento que permite controlar temperatura, luminosidade e umidade.
Para o especialista, é necessário entender que o aumento na atividade locomotora que o estudo demonstrou significa que o mosquito resistente ao inseticida consegue voar por um período maior e, portanto, pode infectar mais pessoas se estiver carregando alguma doença. Ele afirma também que os resultados podem orientar pesquisadores sobre a interferência que essa resistência pode ocasionar.