Renda no Brasil cresce, mas qualidade de vida não acompanha

Especialista ressalta diferencial do relatório em relação aos anteriores: inclui trabalho doméstico, muito prejudicial quando ocupa horas semanais da criança

 04/09/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 14/09/2018 às 16:35

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Um relatório divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que adota um critério inédito no tratamento à pobreza entre crianças brasileiras, inclui o cumprimento de direitos fundamentais garantidos na lei, além dos indicadores de renda per capita. O documento conclui que a pobreza “monetária” foi reduzida na última década, mas privações de um ou mais direitos não diminuíram na mesma proporção: 34% das crianças e adolescentes vivem em famílias com renda insuficiente para a compra de uma cesta básica. Quando são consideradas somente as privações de direitos (educação, informação, trabalho infantil, moradia, água e saneamento), 49,7% do total tem um ou mais direitos negados. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, Ana Lúcia Kassouf, professora do Departamento de Economia e pesquisadora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, falou sobre o relatório.

A especialista inicia falando dos avanços. Em 1992, 23% das crianças entre 10 e 15 anos estavam em situação de trabalho infantil. Hoje, esse índice está em 6%. Ela ressalta um diferencial deste relatório em relação aos anteriores, já que inclui trabalho doméstico, muito prejudicial quando ocupa horas semanais da criança, que não consegue aprender como deveria na escola.

Criança trabalha em armazém de beneficiamento de cebola – Foto: Aline Brasil / Divulgação via MPT

Segundo a professora, políticas públicas como o Bolsa Escola e Bolsa Família tiveram resultados positivos em educação, nutrição, desigualdade de renda e pobreza, além de não serem caros: custam 0,6% do PIB (Produto Interno Bruto). Entretanto, é necessária uma revisão. Hoje, ¼ da população recebe o programa. Além disso, os índices de crianças frequentando o ensino fundamental são bons, mas os do ensino médio, por exemplo, não. É necessário focar no que realmente é problema e analisar os programas sociais existentes, verificando o que está sendo bom em termos de custo-benefício.

Para Ana Lúcia Kassouf, tudo gira em torno da educação. “O povo precisa ser mais crítico, precisa cobrar. Se você tem educação, você se protege de problemas de saneamento, de água, etc.” comenta. Segundo ela, é urgente começar a pensar na educação, problema que não vai ser resolvido de um dia para o outro. “O relatório chama atenção para vários pontos: não é só pobreza em questão de renda, é pobreza em qualidade de vida”, finaliza a professora.

Jornal da USP no Ar, uma parceria do Instituto de Estudos Avançados, Faculdade de Medicina e Rádio USP, busca aprofundar temas nacionais e internacionais de maior repercussão e é veiculado de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 9h30, com apresentação de Roxane Ré.

Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93,7, em Ribeirão Preto FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular. Você pode ouvir a entrevista completa no player acima.


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