Você tem sentido que o tempo tem passado rápido ou devagar nessa quarentena? Um estudo conduzido pela Universidade Liverpool John Moores, na Inglaterra, constatou que 80% dos voluntários sentiram alguma distorção na passagem das horas durante a quarentena no Reino Unido. Mas de onde surgiu o tempo e como o percebemos? Segundo o professor Osvaldo Frota Pessoa Júnior, do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, existe uma divisão básica entre o tempo considerado de maneira física, trabalhado pela ciência, e o tempo subjetivo, utilizado na filosofia: “A ciência trabalha basicamente com o tempo físico, que é um tempo que transcorre independentemente dos seres humanos, da existência de seres conscientes no Universo. Agora, as abordagens filosóficas, elas costumam partir da intuição que o sujeito tem do tempo. Então, argumenta-se que o tempo da ciência vem depois porque a ciência é uma construção intelectual e, para a mente humana funcionar, tem que haver um sentido interno de tempo que seria anterior”.
Mas de onde vem aquela sensação de que o tempo passa lentamente em momentos de tédio e passa bem mais rápido em momentos bons? Arthur Danila, psiquiatra do Núcleo de Apoio ao Estudante da Faculdade de Medicina da USP e também coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, explica que tudo isso remonta a uma estrutura neurobiológica que está preparada para lidar com situações de potencial risco à sobrevivência: ”Nós passamos a ficar mais presos atentamente a situações de risco e, geralmente, essas são situações mais tediosas ou situações mais tristes, mais preocupantes do que os bons momentos em que talvez o nosso cérebro não tenha a necessidade de registrar tão fielmente cada um desses momentos e, portanto, a gente parece ver esse tempo transcorrer mais rapidamente”.
Durante o isolamento social, embora os dias possam passar lentamente para quem está em casa, ao assistir aos noticiários, a percepção é outra, já estamos há mais de cinco meses de quarentena e a pandemia ainda não tem previsão de acabar, como explica Danila: “Essa dicotomia entre a experiência que nós temos, de certa tranquilidade em nossas casas, ao mesmo tempo em que nós estamos cientes de várias informações preocupantes vindas pelas mídias, faz com que a nossa cabeça fique muito confusa e influencie a nossa percepção do tempo, de forma que, apesar de acharmos que o tempo parece caminhar mais lentamente porque não há muito o que fazer nas nossas casas, a experiência transcorre rapidamente pela própria noção de que muitas coisas têm acontecido no Brasil”.
Danila compartilha que, durante a quarentena, podemos apresentar dificuldades para dormir, isso porque muitas vezes atrasamos o período do sono e acordamos mais tarde, já que não temos que realizar o deslocamento para o trabalho. Além disso, uma das desordens relacionadas ao ciclo sono e à vigília é a sonolência diurna, que pode impactar diretamente a nossa qualidade de vida, diminuindo a produtividade e gerando uma sensação de maior desgaste e exaustão emocional ao longo do dia.
Algumas dicas para ajudar a manter uma rotina regulada durante a quarentena são utilizar alarmes para delimitar o tempo a ser dedicado para cada atividade e montar cronogramas no início de cada semana, como sugere Danila: “O uso de alarmes pode ser muito interessante, não só para despertar sempre no mesmo horário, o que pode ajudar muito a organizar a passagem das horas do dia, mas também alarmes para lembrar de tomar água, para as refeições intermediárias entre as grandes refeições, para garantir uma boa alimentação e até para dormir. Escrever previamente um cronograma do que se pretende para a semana pode ajudar muito a ter mais clareza do uso consciente e produtivo dos lotes de tempo durante a quarentena”.
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