Em 2020, um ano atípico para o futebol em todo o mundo, o polonês Robert Lewandowski faturou o prêmio The Best, da Fifa, e se sagrou o melhor jogador de futebol do mundo. Para além de sua grande atuação individual, o centroavante do Bayern de Munique se destacou ao centralizar o excepcional desempenho coletivo da equipe alemã.
Apesar de representar uma mudança de cenário ao deixar para trás Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, Robert Lewandowski — segundo Marco Antonio Bettine de Almeida, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo e estudioso da história do futebol — atende a todos os critérios padrões dos premiados pela Fifa:
“Quem normalmente ganha [o The Best] são figuras de referência em campeonatos europeus, principalmente a Champions, ou Copa do Mundo e Euro, em anos em que são disputados. A tendência também é considerar o desempenho individual. Normalmente, são escolhidos atacantes, houve apenas um ou dois não atacantes premiados até hoje. E o jogador também tem de ser midiático”.
O centroavante polonês, que marcou 55 gols em 47 partidas disputadas na temporada, não se limitou a encantar dentro das quatro linhas. Lewandowski preencheu o último requisito da lista de critérios ao bombar no TikTok com suas irreverentes dancinhas.
Mudança de cenário
Na temporada passada, liderados pelo polonês, os bávaros conquistaram a Bundesliga, a Pokal Cup — ambos campeonatos nacionais — e a sonhada Champions League, o mais relevante torneio de clubes do mundo. A performance do atacante no torneio continental foi, inclusive, o fator determinante para a escolha, segundo o especialista. Ele ainda aponta o prêmio como “merecido” e destaca a importância da “variação, de ter outras potências ganhando o prêmio”.
O polonês é apenas o segundo jogador nos últimos 13 anos a tirar o mérito das mãos de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Enquanto o português faturou cinco prêmios (2008, 2013, 2014, 2016 e 2017), o argentino empilhou seis troféus em sua prateleira (2009, 2010, 2011, 2012, 2015 e 2019). O único a estragar a festa da dupla, além de Lewandowski, foi o croata Luka Modrić, o melhor do mundo em 2018.
Apesar da genialidade incontestável da dupla, Almeida aponta que tamanha dominância se deve ao grande investimento realizado por Real Madrid e Barcelona (times pelos quais se destacaram) e seus desempenhos na Champions League, não por, de fato, terem sido os melhores em todos estes anos. “Em temporadas de Copa do Mundo e Eurocopa, outros poderiam ter conquistado o prêmio”, sugere o especialista. O pesquisador cita o espanhol Iniesta como demonstrativo, o meio-campista era forte candidato ao The Best tanto em 2010 quanto em 2012. No primeiro, o espanhol liderou sua seleção ao título da Copa e, no segundo, ao da Euro.
O critério
Assim como qualquer outra premiação ao redor do mundo, o The Best não escapa das críticas por suas decisões. A escolha mais recente, por exemplo, que levou em conta a participação de Lewandowski nos resultados coletivos do Bayern, levantam questionamentos na internet sobre se o polonês teve o melhor desempenho individual da temporada. As genialidades inigualáveis de Ronaldo e Messi, assim como os grandes desempenhos de De Bruyne e Neymar (este último na parcela final da temporada) esquentam ainda mais o debate.
A fim de evitar este tipo de contestação, a Fifa opta por formar uma bancada de votação diversa. O público vota em seus três nomes favoritos em ordem — o primeiro ganha cinco pontos; o segundo, três; e o terceiro, um. Além disso, também são levadas em consideração, com o mesmo peso e formato, a opinião de jornalistas, técnicos e capitães de seleções nacionais.
Se o critério utilizado por esse diverso grupo muitas vezes não aparenta ser claro, ao menos é possível observar tendências. Como citado pelo especialista, o escolhido normalmente é um jogador que tenha atuado no time que faturou a Champions League (ou que realizou campanha marcante no torneio), que atue no setor ofensivo e que seja uma figura com boa imagem pública.
O “fator mídia”, por sinal, parece ser um dos que impedem o torcedor brasileiro de ver um de seus compatriotas recebendo o prêmio. Desde de 2007, quando Kaká o venceu, o The Best não é verde e amarelo. E Neymar, que é a esperança desde então, além de apresentar inconstâncias técnicas e seguidas lesões, “desde sua ida à França, cada vez mais se firma como uma figura pública que gera desconfiança”, conclui o especialista.
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