No Norte do Brasil, uma arte milenar é resgatada

As culturas marajoara e tapajônica apontam para a necessidade de apostarmos em outras histórias da arte

 23/07/2018 - Publicado há 6 anos

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“Visitei os galpões dos ceramistas de Icoaraci, distrito industrial de Belém, no Pará. Ali se produzem cerâmicas na tradição marajoara e tapajônica, uma cultura milenar, que vem de tribos extintas há muito tempo”, conta Giselle Beiguelman, artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Nestas férias, Giselle fez um roteiro para apresentar uma arte considerada uma das mais bonitas do mundo. Conversou com os artesãos, observou a produção das peças que traz a decoração, os mesmos detalhes em relevos e as formas de quando foram criadas. “Os marajoaras viveram na região amazônica da Ilha de Marajó desde o ano 1000 a.C. até o ano 1300 e, no seu auge, essa ocupação chegou a 100 mil habitantes. Não se sabem os motivos de sua desaparição, mas estima-se que a produção ceramista remonte pelo menos a 1500 a.C..”

Entre as peças da arte cerâmica, que está entre as mais antigas das Américas, estão as urnas funerárias, as igaçabas destinadas aos ossos dos mortos. Há também vasilhas, potes, estatuetas, chocalhos, entre outras peças que surpreendem pela riqueza de detalhes. A professora também observou a cultura tapajônica do Baixo Amazonas, uma produção ceramista que remonta a 6.500 a.C. “Em Icoaraci, os artesãos locais trabalham divulgando esses saberes e colaborando para a sua preservação. Um dos mais conhecidos, o seu Anísio, conta que faz cursos de atualização no Museu Goeldi e muitos deles têm clientes no exterior, apesar da falta de infraestrutura e apoio do Estado.”

O que impressiona os visitantes são as condições precárias onde os artesãos/artistas trabalham. “Tudo é feito nesses galpões, dos instrumentos de trabalho aos fornos com uma capacidade de reinvenção e apropriação inacreditável. De uma caneta Bic e um grampo nasce uma espátula. De um lápis e um pedaço de madeira, nasce um compasso. E o resultado são peças deslumbrantes, que nos colocam diante de uma outra história da arte e uma outra compreensão do design.”

Quem quiser saber mais sobre as culturas marajoara e tapajônica ouça a íntegra da coluna Ouvir Imagens, por Giselle Beiguelman, clicando no player acima. Informações mais detalhadas acesse: www.desvirtual.com


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