Depois que o ex-governador de Tocantins, Marcelo Miranda (MDB), e sua vice, Cláudia Lelis (PV), tiveram seus mandatos cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral por arrecadação ilícita de recursos em 2014, os eleitores voltaram às urnas no último mês. Com mais de 137 mil votos brancos e nulos (19% do total) e 30% de abstenções, metade dos eleitores tocantinenses ignorou os candidatos que, caso eleitos, poderiam até se reeleger ainda neste ano. Para entender melhor sobre esse movimento do “não voto” em Tocantins, e se ele pode vir a ser uma tendência para as eleições de outubro, o Jornal da USP no Ar conversou com o professor Antonio Carlos Mazzeo, pesquisador externo do Programa de Pós-Graduação de História Econômica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Mazzeo esclarece que esse movimento não é um fenômeno apenas do Brasil, pois o mundo vem sofrendo com uma crise de democracia representativa. Não é uma negação da democracia, mas sim uma rejeição das formas de representação. Segundo o professor, a crise não é dos partidos em si, mas dos projetos políticos e, consequentemente, dos partidos que os representam.
Esse movimento é um reflexo da insatisfação que também influenciou outros movimentos, como o que ocorreu no Brasil em junho de 2013. Ele afirma que é uma consequência de o País ter sido o último a abolir a escravidão, que continua no seu plano cultural. Dessa forma, é difícil ter uma democracia estruturada quando a massa social já vem de um histórico de exclusão.
Segundo o professor, a tendência é que esse movimento chegue às eleições presidenciais brasileiras deste ano. Porém, ele ressalta que só haverá, de fato, democracia no Brasil quando houver a democratização dos meios de comunicação, que são concessões públicas que estão sendo utilizadas como se fossem privadas. Além disso, Mazzeo destaca a falta de ampliação das campanhas e debates políticos que permitam que os eleitores compreendam as propostas com eficácia.
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