El Niño e o início do verão no Hemisfério Norte trazem fortes ondas de calor

Segundo Pedro Luiz Côrtes, a energia do sol retida no planeta traz consequências também na distribuição dos ventos

 07/07/2023 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 27/06/2024 as 12:55
Mudanças climáticas – Serra Catarinense, São Joaquim – Foto: Mycchel Legnaghi/São Joaquim Online via Fotos Públicas
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No período que marca o início do verão no Hemisfério Norte e o início do El Niño, países têm sido atingidos com ondas fortes de calor. Na Espanha, no final de junho, foi registrada a temperatura de 44º. México e China também enfrentaram temperaturas acima dos 40ºC. No nível global, a média atingiu 17,18°C, superando o maior índice já registrado até então, de 16,92ºC. 

Pedro Luiz Côrtes, professor titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, explica qual o ponto de partida para entender as mudanças climáticas: “A energia que a gente tem no sistema da atmosfera e nos oceanos vem do sol e o que tem acontecido, ao longo das últimas décadas, é que nós aumentamos a espessura do ‘cobertor’ que retém esse calor do sol, ou seja, nós estamos concentrando mais gases na atmosfera que retêm mais calor. Nós continuamos recebendo mais ou menos a mesma energia do sol, só que a gente guarda mais essa energia”.

Falta de preparo

Côrtes estabelece uma comparação para compreender o impacto que o calor extremo tem na vida das pessoas em países do Hemisfério Norte. “Falar em 40 graus para um habitante do Rio de Janeiro pode parecer uma situação razoavelmente comum. O Rio de Janeiro tem um preparo para isso, as pessoas estão acostumadas, mas quando nós falamos com relação a Londres, por exemplo, não é uma cidade que tenha esse tipo de preocupação porque o ambiente é frio, são casas que têm uma calefação muito intensa, então, quando elas recebem esse calor externo, ele fica retido e isso causa uma série de problemas de saúde.” 

A energia do sol retida no planeta traz consequências também na distribuição dos ventos: ela [energia solar] aumenta a velocidade e intensidade de determinados fenômenos que ocorrem naturalmente. Para que o vento possa fluir de uma região para outra, você tem que ter uma diferença de pressão. Então, uma área que tem uma pressão atmosférica muito alta vai lançar ventos por uma área que está com uma pressão mais baixa. Quando ocorre esse aumento de energia, essa distribuição pode ficar desbalanceada”, afirma Côrtes. Há, além disso, suspeitas de que mudanças nos ciclos das correntes marítimas possam acontecer. 

Em 2022, fenômenos como esses e outros foram observados na Europa: secas intensas, falta de água e incêndios florestais. “Infelizmente é uma tendência que isso possa se repetir”, diz Côrtes.

México e China enfrentaram temperaturas acima dos 40ºC – foto: Gerd Altmann – Pixabay

Impactos no Brasil

Apesar da maior atenção ao Hemisfério Norte, países do Hemisfério Sul não ficaram isentos de efeitos climáticos adversos. Invernos muito frios, como os que têm sido observados no Brasil e na América do Sul, também são resultantes das mudanças climáticas. “O inverno já não se comporta exatamente como ele se comportava antes. Essas chuvas muito intensas no Rio Grande do Sul que já ocorreram e agora estão sendo prognosticadas pelos próximos dias, porque normalmente o inverno é um período mais seco. A gente pode ter chuva, sim, mas não nesses volumes que vêm acontecendo”, aponta Côrtes. 

Para listar outros desequilíbrios: “Nós tivemos um ciclone há pouco tempo que provocou chuvas intensas, mais na faixa litorânea do Rio Grande do Sul. E agora nós estamos entrando numa outra fase, onde nós vamos ter chuvas muito intensas, distribuídas em várias áreas do Rio Grande do Sul, com máximas podendo chegar entre 300 a 400 mm de chuva”. Nesse período, o esperado é de cerca de 150 mm. Em poucas semanas, choverá o que era previsto para chover em dois meses.


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