Cientistas alertam para contaminação por desreguladores endócrinos

Substâncias que alteram o funcionamento hormonal serão tema de conversa no Instituto de Estudos Avançados

 09/11/2018 - Publicado há 5 anos

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Presentes em inúmeros produtos vendidos no comércio varejista, os desreguladores endócrinos (DEs) são substâncias e compostos químicos que interferem em glândulas como pâncreas, tireoide, hipófise, suprarrenais, ovários e testículos. Essas glândulas são responsáveis pelo controle do metabolismo, funções reprodutivas, funcionamento do sistema nervoso, crescimento e outros processos do organismo humano. O tema será debatido no evento Conversa sobre Desreguladores Endócrinos, na próxima segunda-feira, no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, Elaine Maria Frade Costa, professora da Faculdade de Medicina (FM) da USP, do IEA, e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, falou sobre os DEs.

Células – Foto: Arodmur/Wimedia Commons

Segundo ela, essas substâncias estão em praticamente tudo que temos contato diariamente. Os desreguladores endócrinos existem no meio ambiente e são capazes de interferir no sistema endócrino, aumentando ou diminuindo o processo de produção e ação dos hormônios. Um estudo com camundongos expostos à poluição atmosférica de São Paulo mostrou que essas substâncias estão até no ar, alterando o sistema reprodutivo do animal.

A médica explica que existem as janelas de suscetibilidade, que ocorrem principalmente na fase intrauterina, na infância e na adolescência, fases de maior plasticidade das células. Nesse processo, elas são mais suscetíveis à interferência dessas substâncias. Por isso, grávidas precisam tomar cuidado com a exposição. A médica aponta soluções, como a criação de políticas públicas de diminuição dessas substâncias. Um caminho seria melhorar combustíveis e escapamentos, já que vários DEs são provenientes da queima do diesel. Mudar a composição química do plástico também faria diferença. O bisfenol A está presente no material e, quando aquecido no microondas, libera desreguladores endócrinos. Por esse motivo, em 2010, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia de São Paulo fez uma campanha e conseguiu a proibição da substância em mamadeiras.

No dia a dia, as pessoas podem evitar aquecer alimentos em recipientes plásticos e diminuir exposição aos agrotóxicos e a cosméticos que tenham parabenos. A Anvisa possui uma lista de substâncias que contém a ação de DEs. A população deve se informar e não se expor.

Elaine Maria conta que atualmente tem estudado agrotóxicos, tentando identificar aqueles presentes na água de abastecimento. As substâncias são usadas em plantações à beira do rio e contaminam a água, que não fica livre dos compostos após o tratamento.

A Conversa sobre Desreguladores Endócrinos acontece no dia 12 de novembro na Sala Alfredo Bosi, Rua da Praça do Relógio, 109, térreo, Cidade Universitária, São Paulo. O evento, que terá transmissão ao vivo, é gratuito e não carece de inscrição.

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