Automação gera preocupação com desemprego no setor contábil

Apesar das previsões de que a inteligência artificial vai desempregar até 75% dos profissionais, especialistas garantem que as mudanças afetarão apenas as tarefas mecânicas e repetitivas

 16/09/2020 - Publicado há 4 anos
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Imagem: Health Blog on Visual Hunt/CC BY-SA

A automação chegou de vez no setor contábil. O uso da inteligência artificial está cada vez mais presente e o receio de muitos especialistas é que o profissional de contabilidade perca mercado de trabalho, algo similar ao que acontece no setor bancário. Os números reforçam essa teoria. Em 2016 existiam 55 mil escritórios de contabilidade no Brasil; hoje, 70 mil estão registrados. Já os profissionais diminuíram de 533 mil para 516 mil no período. Os dados são do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).

Esta redução se dá, sobretudo, porque a automação do setor atinge mais diretamente a ocupação dos técnicos que executam as tarefas mais repetitivas. Muitos estimam que a automação vai ocupar até 75% do mercado de trabalho, que hoje é composto de 354,5 mil contadores e 161,5 mil técnicos em contabilidade.

O professor Marcelo Botelho, do Departamento de Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, diz que as previsões são alarmistas. O que está ocorrendo, segundo Botelho, é a introdução da automação em processos contábeis, deslocando o profissional para áreas mais complexas como planejamento, previsões, análises de empresas, tomadas de decisão. “Tudo isso pode ser auxiliado com o emprego da inteligência artificial, que, sozinha, é uma ferramenta poderosa e que, aliada a um bom profissional, pode ser imbatível.”

Marcelo Botelho da Costa Moraes, professor doutor da Universidade de São Paulo (USP) na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) – Departamento de Contabilidade nos cursos de graduação, mestrado e doutorado – Foto: Arquivo pessoal

O professor diz que a automação está entrando no setor pelas áreas de escrituração contábil, lançamentos de débito e crédito, apuração de impostos, obrigações acessórias que são obrigações tributárias. “Os sistemas da própria Receita Federal, dos fiscos estaduais, já têm um grande potencial de automação”, assegura, afirmando que a tendência é de mudança, muito em breve, do próprio sistema fiscal.

O empresário de contabilidade Walter Assis da Cunha, delegado do Conselho Regional de Contabilidade em Ribeirão Preto por 12 anos, explica que existem 48 atividades que o contador está apto a desenvolver no setor e que algumas delas estão sendo de fato automatizadas. Cunha não acredita na extinção do mercado de trabalho para o profissional, mas faz um alerta para os profissionais que não estão familiarizados com essas mudanças: “Quem não se atualizar vai ficar fora do mercado”.

Até o curso de Ciências Contábeis da FEA-RP está se adaptando aos novos tempos, segundo o professor Botelho. “A inclusão de disciplinas voltadas à área de tecnologia, com a inclusão de Date Analytics, de Machine Learn, de inteligência artificial, de Business Inteligence, deixa o profissional de contabilidade no ambiente mais próximo do que se espera de organizações mais modernas,” assegura. Além disso, ressalta o professor, existe um foco cada vez menor em disciplinas de caráter mais técnico e maior em disciplinas de análises, tomada de decisões, previsões, cenários que levem a uma necessidade maior de raciocínio humano. “A gente já vem fazendo alguns esforços na USP aqui em Ribeirão Preto e a tendência é de um curso muito mais voltado a um contador que auxilie no planejamento e tomada de decisão do que um contador que fique mais voltado a lançamentos contábeis tradicionais.”

O estudante do segundo ano de Ciências Contábeis da FEA-RP, Gustavo Ferreira Costa, não considera a inteligência artificial uma ameaça ao futuro mercado de trabalho. “Acho que é só uma evolução da indústria 4.0. Todos os pontos de trabalho que são repetitivos, que tendem sempre a fazer aquela tarefa mecânica, vão tender a perder mercado,” conclui.

As entrevistas de Marcelo Botelho, Walter Assis da Cunha e Gustavo Ferreira Costa você acessa no player acima.


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