Astrônomos descobrem objetos cósmicos que ajudaram a formar nossa galáxia

Especialistas frisam que a descoberta de Shakti e Shiva, dois aglomerados de estrelas que teriam se juntado à Via Láctea, traz à luz a importância do compartilhamento de dados astronômicos

 28/05/2024 - Publicado há 1 mês
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Apenas em 2018 a arqueologia galáctica conseguiu avanços significativos – Foto: ESO/M. Kornmesser
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Astrônomos do Instituto Max Planck, na Alemanha, divulgaram a descoberta de vestígios de Shakti e Shiva, dois aglomerados de estrelas que teriam se juntado à Via Láctea há cerca de 12 ou 13 bilhões de anos e contribuído para o tamanho acima da média de nossa galáxia. Guilherme Limberg, pesquisador do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, explica melhor o que são protogaláxias e como Shakti e Shiva foram descobertas.

Limberg explica que Shakti e Shiva, embora fossem grandes aglomerados de estrelas e matéria cósmica, pouco tinham de semelhança com as galáxias que reconhecemos hoje. “Essas protogaláxias não eram nada parecidas com a Via Láctea e Andrômeda, porque a Via Láctea e Andrômeda são duas galáxias muito maduras, que já formaram um disco e os braços espirais.” 

Guilherme Limberg — Foto: Galactic Archaeology/IAG

Contudo, os objetos espaciais descobertos estão de acordo com o entendimento atual de formação de galáxias e aglomerados de estrelas. Segundo esse entendimento, a Via Láctea deve se fundir com Andrômeda, outra galáxia do nosso grupo local com tamanho muito acima da média, para formar uma galáxia maior ainda em cerca de 5 bilhões de anos. “É uma coisa parecida no sentido de que são galáxias que estão se juntando para formar uma galáxia maior. Temos galáxias se fundindo com outras para formar objetos mais massivos e é assim que elas crescem mesmo”,  expõe o pesquisador.

Campo de estudos recente

A descoberta de Shakti e Shiva integra o campo de estudos conhecido como “arqueologia galáctica”, que busca olhar para os indícios da nossa galáxia atual para tentar entender como ela era há bilhões de anos. Guilherme Limberg conta mais sobre como foi feita a descoberta: “Sabendo o movimento que as estrelinhas fazem no céu e também a distância dessas estrelas, a gente tem informação suficiente para entender como esses objetos estão se movendo ao redor da galáxia. A lógica é: se elas se movem juntinhas, elas provavelmente vieram do mesmo objeto original”.

Esse é um campo de estudos bastante recente, apenas em 2018 a arqueologia galáctica conseguiu avanços significativos. O astrônomo explica que foi com o lançamento das informações coletadas pelo satélite Gaia, com a missão de fazer um mapeamento detalhado, em três dimensões, das estrelas da nossa galáxia, que foi possível chegar a esse tipo de conclusão.

O papel da colaboração internacional

A descoberta foi anunciada por cientistas alemães do Instituto Max Planck, mas utilizando dados coletados pelo satélite Gaia, que é da Agência Espacial Europeia, e por outro projeto astronômico estadunidense, o Sloan Digital Sky Survey (SDSS) da Universidade de Chicago. O professor Roberto Costa, do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, conta que a colaboração internacional nesse tipo de análise de dados astronômicos se tornou uma necessidade, porque o volume de dados coletados é imenso. “São volumes muito grandes de dados, não teria como uma pessoa fazer isso por conta própria. Os observatórios têm suas políticas de dados, às vezes os dados coletados são proprietários por um tempo e depois são liberados, outros são liberados imediatamente após serem processados. Isso varia um pouco, mas em geral esses dados dos grandes levantamentos como SDSS, por exemplo, ou o Gaia são grandes levantamentos automáticos.”

Roberto Dell’Aglio Dias da Costa – Foto: Reprodução/Lattes

O diferencial, segundo Roberto Costa, não está mais na coleta ou limpeza dos dados coletados pelos telescópios, mas na interpretação dada para eles pelos astrônomos. “Não dá mais para um astrônomo ou para um grupo de pesquisas da Universidade x ou y fazer tratamento de dados. Isso é feito de forma mais ou menos automática, e então cabe aos astrônomos posteriormente fazer a interpretação.” 

O IAG/USP também participa dessa cooperação internacional para descobertas astronômicas. O professor conta: “Nós temos também no departamento, lá dentro do IAG, na Cidade Universitária, um cluster de computador bem grande, que agora está sendo renovado, específico para astronomia, que faz tratamento de dados, processamento de imagem e faz simulações numéricas também. Os astrônomos do Departamento de Astronomia estão bem inseridos nessas técnicas modernas de observação e análise de dados”.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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