A obesidade infantil afeta a saúde de milhões de crianças menores de 10 anos no Brasil, segundo estudo do Ministério da Saúde com população acompanhada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mas essa situação pode ser evitada quando, desde os primeiros anos de vida, as crianças tenham uma alimentação saudável tanto em casa como na escola, que tem papel fundamental nesse processo, segundo o nutricionista Fábio da Veiga Ued, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. “Nós precisamos ter consciência que o comportamento das crianças na faixa-etária escolar é muito influenciado pelo ambiente onde vivem. E, tendo em vista que elas passam boa parte do dia na escola, esse é um ambiente que impacta sim, diretamente, na boa alimentação infantil ou na má alimentação.”
O papel da escola, diz Ued, é fornecer alimentos saudáveis para as crianças, “o que ajuda na concentração, no desenvolvimento intelectual e no rendimento escolar”. O professor lembra que os cardápios das escolas são elaborados por nutricionistas dos municípios ou do Estado, de acordo com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), mas alerta que, em algumas escolas, o horário de fornecimento de grandes refeições, como o almoço, por exemplo, é inapropriado. “Eles oferecem o almoço às 9 horas e, dessa forma, muitas crianças acabam almoçando duas vezes, uma na escola e outra em casa, às 12 horas, o que favorece a ingestão de quantidade excessiva de energia.”
Outro fator que preocupa, segundo o nutricionista, é que, na tentativa de cortar custos, os cardápios de algumas escolas contêm alimentos de baixo valor nutricional, como sucos industrializados e embutidos, como salsichas, por exemplo. “Isso precisa ser fiscalizado pelos órgãos públicos e merece mais atenção de cada escola”, afirma.
Já em casa, o principal empecilho para a continuidade dos hábitos alimentares ensinados na escola é a má alimentação dos pais, segundo o nutricionista. “O ambiente domiciliar precisa andar de mãos dadas com o ambiente escolar e as refeições em casa precisam ser realizadas em horários predefinidos para que a criança tenha um hábito e uma rotina alimentar, num ambiente calmo e tranquilo, sem TV, celular ou tablet e sem insistência para que ela coma tudo que está no prato. Esses fatores favorecem para que a criança preste mais atenção no alimento e estabeleça vínculo com o alimento e evita a seletividade alimentar”, diz o professor.
Uma boa alimentação, diz Ued, deve começar desde o nascimento e os pais devem atentar sempre para que a criança receba alimentos saudáveis, aumentando a qualidade de vida e tendo vários benefícios. “O primeiro benefício é o bom crescimento e desenvolvimento da criança; um segundo é a contribuição para o desenvolvimento cognitivo e para a capacidade intelectual, facilitando um melhor desempenho na escola; o terceiro benefício é a prevenção de resfriados e gripes recorrentes; em quarto, a formação de hábitos alimentares saudáveis, que pode perdurar por toda a vida; e, por fim, a prevenção de doenças crônicas no futuro, como câncer, diabete e obesidade, por exemplo.”
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