Você conhece a Dora?

Por Claudio Geraldo Schön, professor da Escola Politécnica da USP

 Publicado: 30/10/2024 às 18:31
Cláudio Geraldo Schön – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A Declaração sobre Avaliação de Pesquisa (Declaration on Research Assessment, Dora), também conhecida como Declaração de São Francisco, é uma manifestação pública que busca melhorar a forma como fazemos avaliação de pesquisa, para usar em promoções, contratações e concessão de recursos de pesquisa. A declaração completa pode ser lida aqui. Resumidamente, a declaração nos estimula a avaliar a pesquisa por seu mérito intrínseco e não tomando como base coisas como o Fator de Impacto das revistas em que esta pesquisa é publicada. Apesar de não proibir explicitamente o uso de métricas quantitativas para avaliar artigos, ela obviamente advoga o uso de uma métrica qualitativa.

Seguindo a declaração original, nós lemos (tradução e adaptação livres pelo próprio autor) que ela estimula:

• a necessidade de eliminar o uso de métricas baseadas na revista, como os fatores de impacto do JCR, na consideração de financiamento, indicações e promoções,
• a necessidade de avaliar a pesquisa por seus próprios méritos e não pela revista em que foram publicados e
• a necessidade de fazer uso das vantagens que publicações on-line têm para eliminar restrições a número de palavras, figuras e referências, buscando novos indicadores de significado e impacto.

É claro que a declaração foi proposta para combater uma cultura propagada por algumas editoras que induz pesquisadores, e em particular os pesquisadores jovens, a publicar artigos em certas revistas tradicionais de alto fator de impacto sob a pena de não ter sucesso na carreira. Pior que isto, algumas universidades e agências de financiamento de pesquisa adotam, talvez por preguiça, a mesma cultura em suas avaliações. Critérios como o malfadado fator de impacto, a infame “contagem de artigos” e o fator h dominam esse tipo de avaliação. A Dora é um alerta para que evitemos esse tipo de coisa.

A Dora pode ser assinada individualmente ou por meio institucional. A Universidade de São Paulo assinou a declaração e a Câmara de Avaliação Institucional, da qual o presente autor é vice-presidente, está ativamente discutindo e aplicando a Dora nos processos de avaliação que ela dirige. Recentemente concluímos duas coisas a respeito: precisamos propor uma ampla discussão destas coisas com a comunidade e precisamos estender o alerta da Dora para outras dimensões de avaliação, como no ensino de graduação e de pós-graduação e na cultura e extensão.

O presente autor sinceramente espera que a comunidade acadêmica adote a Dora completamente. Análise qualitativa é difícil de fazer, mas nossa tarefa na Universidade é fazer coisas de forma racional. Parafraseando o presidente Kennedy, fazemos isto porque é difícil, e não o contrário. Cabe aqui um alerta, qualitativo não é necessariamente o mesmo que subjetivo, há uma série de indicadores qualitativos (por exemplo, do tipo “tem/não tem”) que podem ser usados na avaliação e são tão objetivos quanto qualquer indicador quantitativo clássico.

(Traduzido e adaptado pelo autor de um artigo publicado originalmente em inglês no LinkedIn)

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