Aqueles que confiam na própria competência não temem a competição com as organizações sociais

Por Rogério Cezar de Cerqueira Leite, presidente do Conselho de Administração do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM)

 19/05/2022 - Publicado há 3 anos
Rogério Cezar de Cerqueira Leite – Foto: Arquivo pessoal
Em relação à matéria R$ 9 bilhões para “impedir a morte da ciência brasileira?, publicada no Jornal da USP em 6 de maio, compartilho duas observações a respeito de comentários sobre a distribuição dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Concordo inteiramente com o argumento de que é uma artimanha indigna de um governo que pretende representar o Brasil dividir o orçamento do FNDCT em partes iguais entre reembolsável e não reembolsável, pois se sabe que a demanda por empréstimos é extremamente reduzida. Com isso o governo sonega quase metade do total dos R$ 9 bilhões para recolhê-lo ao fim do ano.

Discordo, entretanto, da comparação entre parcelas alocadas às universidades e às organizações sociais (OS) como profundamente desonestas, pois ignoram ou fingem ignorar que os orçamentos das universidades e instituições provêm diretamente do Tesouro, enquanto a parcela das organizações sociais inclui gastos com salários, operações etc. Recursos para pesquisas para as universidades que as fazem correspondem a aproximadamente 1% ou 2% de seu total orçamento.

A implicância que certos meios acadêmicos têm em relação às organizações sociais decorre, temo, apenas de medo da competição com instituições organizacionais mais eficientes e do receio de que o sucesso das OS induza à transformação de organizações da administração direta em organizações sociais, e com isso percam a vitaliciedade e outras benesses. Todavia, aqueles que confiam na própria competência não temem a competição com as organizações sociais.


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