O debate político para o segundo turno tem sido marcado pela pauta religiosa. Na cobertura jornalística, há uma preocupação sobre quem foi nesta ou naquela igreja ou templo, quem defende este ou aquele preceito, ideia ou dogma. Parece que estamos diante da necessidade de escolher um líder religioso, demanda essa temperada pela pauta de costumes e alianças políticas de ocasião.
Estamos em um momento muito interessante que tem, de certa forma, escapado desse debate. Pela primeira vez desde a redemocratização, temos dois candidatos à Presidência da República que têm experiência no cargo. Isso nos permite comparar modelos existentes em diversas áreas. Podemos ir além do que a cobertura jornalística nos oferece cotidianamente.
Por exemplo, nos últimos anos, estabeleceu-se uma dicotomia entre preservação ambiental e crescimento econômico. Parece que, por serem inconciliáveis, devemos optar por um ou outro. Será que tem de ser assim? Vejamos: não faz muito tempo, conseguimos crescer economicamente e preservar o meio ambiente ao mesmo tempo. O desmatamento diminuía rapidamente enquanto a economia crescia, as desigualdades eram reduzidas e as exportações avançavam.
O baixo desemprego mostrava isso. Não faz muito tempo, diante do crescimento econômico, havia falta de engenheiros, por exemplo. Muitos profissionais portugueses buscavam colocação no Brasil, pois havia uma severa crise em nosso país-irmão. Estávamos em uma situação de pleno emprego e com políticas sociais que retiravam o Brasil do mapa da fome.
Hoje, parece que no percurso das motociatas não se encontram pessoas acampadas nas ruas, mas elas estão lá e em número cada vez maior. Mas, como poderia ser isso possível – ou até mesmo verdadeiro – em um país que se orgulha de alimentar 1,2 bilhão de pessoas? A verdade é que, em que pese qualquer crescimento econômico, ele não tem sido acompanhado de políticas sociais que permitam aos acampados terem acesso ao que o País potencialmente pode oferecer. São refugiados dentro do próprio País. E ficam por sua conta e risco.
Não parece difícil comparar. Enquanto há alguns anos a proteção ambiental ganhava destaque, a política atual pode ser resumida em aproveitar a oportunidade, abrir a porteira e “deixar a boiada passar”. Diante das atuais taxas de desmatamento, creio que nem porteira haja mais. Ela já foi arrancada. Houve uma candidatura à Presidência com boas relações com o agronegócio que, durante um debate, disse que o desmatamento da Amazônia estava provocando redução de chuvas no Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul e prejudicava as safras. Parece que partes do grande agronegócio já começam a perceber as consequências dessa “porteira aberta ou da falta de porteira”.
Há, entretanto, quem defenda que esse “abrir de porteira” gera empregos. Pois bem, o desmatamento intensivo na Amazônia começou em 1970 com a construção da Transamazônica. Portanto, estamos diante de um modelo econômico que já está em aplicação há mais de 50 anos. Fica fácil fazer verificações e correlações. Com o desmatamento, houve aumento do PIB per capita na Amazônia Legal Brasileira? Não. Houve melhoria nos serviços públicos de saúde? Não. Houve melhoria na qualidade de ensino? Não.
Em resumo, não há razão para se defender o desmatamento da Amazônia, replicando o modelo adotado durante a nossa colonização. É este o ponto. Temos duas opções disponíveis. Um modelo – não só ambiental, mas econômico e social – olha e reproduz o passado em “um museu de grandes novidades”. O outro modelo, igualmente já testado, aponta para o futuro ao conciliar crescimento econômico e social com preservação ambiental.
Estamos diante de uma oportunidade única. É difícil escolher? Não me parece.